Título: Rajoy reconhece erro de estratégia em debate antes de eleição espanhola
Autor: Sant'Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2008, Internacional, p. A15

Para analistas, conservador, que está cinco pontos atrás de Zapatero nas pesquisas, não apresentou novas propostas

O líder da oposição de direita da Espanha, Mariano Rajoy, pode ter selado a sua derrota nas eleições gerais de domingo, com seu desempenho no debate na noite de segunda-feira. Até ele notou. Candidato a primeiro-ministro pelo Partido Popular, Rajoy admitiu ontem que ¿não deveria ter debatido tanto tempo¿ a guerra do Iraque e o atentado de 11 de março de 2004 em Madri, cometido pela Al-Qaeda.

Enquanto Rajoy insistia no tema ¿terrorismo¿, desembocando nesses assuntos desfavoráveis ao PP, o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, candidato à reeleição pelo Partido Socialista (PSOE), apresentava propostas e abordava questões que interessam mais aos eleitores.

O resultado foi que Zapatero, segundo três sondagens diferentes, saiu-se melhor no debate por uma margem entre 15 e 20 pontos porcentuais (53% a 38%, 50,8% a 29,0% e 49,2% a 29,8). Numa disputa em que as pesquisas de intenção de votos davam uma diferença de apenas cinco pontos entre os dois principais candidatos - em favor de Zapatero -, um bom desempenho nesse último debate era considerado crucial para Rajoy.

O líder direitista, no entanto, não deu a impressão de ter assimilado a lição por completo: ¿Deveria ter dedicado mais tempo à luta contra a ETA (Pátria Basca e Liberdade)¿, concluiu ontem, referindo-se às suas acusações, bastante reiteradas no debate, de que Zapatero ¿enganou a ele como líder da oposição e mentiu aos espanhóis¿ ao negociar com o grupo separatista basco.

Foi justamente a insistência de Rajoy nesse tema que permitiu a Zapatero lembrar que o governo do PP, sob José María Aznar, enviou tropas ao Iraque em 2003 na esperança de que os Estados Unidos retribuíssem ajudando a Espanha a combater o terrorismo. Em vez de obter, com isso, o fim dos ataques da ETA, atraiu a fúria da Al-Qaeda, que executou o maior atentado da história da Espanha, com a série de bombas nos trens na periferia de Madri. Zapatero prensou Rajoy na parede, perguntando se ele continuava apoiando a guerra no Iraque. O líder do PP não respondeu. A discussão trouxe à tona uma das principais causas da derrota do PP nas últimas eleições gerais, em 2004: a atitude do governo de inicialmente responsabilizar a ETA pelo atentado, na esperança de arrancar votos do PSOE, que tende ao diálogo com os separatistas. O oportunismo foi fatal para o PP, que liderava as pesquisas até então.

Na última pesquisa de intenção de votos divulgada pelo instituto Opina no fim de semana, o PSOE vencia com 43,5%, seguido pelo PP, com 38,0%, e pela Esquerda Unida, com 5,0%. A lei eleitoral espanhola não permite mais a divulgação de resultados, mas o Opina continua fazendo pesquisas diárias, chamadas de tracking. ¿Rajoy vem caindo dia-a-dia¿, revelou ao Estado a diretora do Opina, Josefina Elías.

¿Todos sabiam que os candidatos deviam concentrar-se em propostas e no futuro, depois que o debate anterior (dia 25) ficou muito focado no passado¿, disse Fernando López, diretor-geral do Metroscopia, que faz pesquisas de opinião para o jornal El País. ¿Zapatero apresentou mais propostas, falou mais do futuro, foi mais concreto.¿ Nas contas de Fernando Caballero, do Colégio Profissional de Politólogos e Sociólogos, Zapatero apresentou 30 propostas; Rajoy, 10. ¿Os temas que interessam ao PP não são os temas importantes para os cidadãos¿, observou Caballero, para quem o conservador poderia ter explorado a queda do poder aquisitivo e a carestia, por exemplo. Segundo pesquisas do Metroscopia, a maior preocupação dos espanhóis é a alta dos preços da moradia. Rajoy não tocou no assunto.

Pior: o líder do PP ficou insistindo que Zapatero é mentiroso, sem conseguir prová-lo. No entanto, foi pego numa mentira. No afã de provar que o governo ¿não tem política econômica¿, afirmou que a primeira questão que colocou a Zapatero no Parlamento como líder da oposição, em maio de 2004, foi sobre a economia. O primeiro-ministro o desmentiu, puxando pela memória. Ontem, os jornais espanhóis mostraram que a pergunta de Rajoy foi um genérico: ¿Como o senhor avalia os primeiros dias de seu governo?¿