Título: Lupi vai procurar Pertence antes de se licenciar do PDT
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2008, Nacional, p. A6

Após receber apoio do partido, ministro agora busca saída honrosa para atender à Comissão de Ética

Eugênia Lopes

Em busca do papel de protagonista de sua própria renúncia, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, quer conversar com o novo presidente do Conselho de Ética, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, antes de decidir licenciar-se do comando do PDT. A intenção é dar ao episódio uma atmosfera de solução negociada em alto nível e não produto de uma renúncia forçada pela comissão. Em reunião de mais de três horas com a cúpula do PDT e as bancadas na Câmara e no Senado, Carlos Lupi recebeu a solidariedade do partido e acertou sua permanência temporária nos dois cargos. Foi o primeiro ato de um script já combinado com a bancada: primeiro, o apoio dos parlamentares; depois, a renúncia à presidência do partido. Lupi quer, com isso, evitar especulações de que teria sido pressionado pelo PDT e o governo a se afastar do comando da legenda. A expectativa é de que o ministro se licencie na semana que vem da presidência do PDT.

¿Vou conversar com o Sepúlveda para ser convencido ou tentar convencê-lo¿, afirmou ontem Lupi, após a reunião com a cúpula pedetista. O ministro disse que vai telefonar hoje para Pertence a fim de marcar o encontro. Ao elogiar o ¿conhecimento e a envergadura jurídica¿ do ex-ministro do STF, Lupi deu sinais de que vai se licenciar da presidência. ¿Com ele (Pertence) o tipo de relação é diferente¿, observou o ministro. Pertence já indicou que considera incompatível o acúmulo da pasta com a presidência do PDT.

BANDEIRA LIMPA

Parte dos parlamentares do PDT também defende o afastamento de Lupi do comando do partido. Mas o único que fez essa proposta abertamente na reunião de ontem foi o senador Osmar Dias (PDT-PR). ¿Acredito que o bom senso vai levá-lo a se licenciar da presidência do PDT¿, afirmou Dias. ¿Essa história tem de ser esclarecida porque o PDT quer continuar com a bandeira limpa.¿

Refletindo a estratégia de Lupi, o senador Jefferson Péres (AM) deixou claro que o ministro não saiu ontem da presidência do PDT ¿para não parecer que foi pressionado¿. ¿Se ele saísse hoje (ontem), vocês iam escrever que ele foi destituído pelo PDT. Não é o momento para ele se afastar¿, argumentou.

Na reunião, Lupi fez um balanço de todo o imbróglio, que começou em dezembro com a sugestão do então presidente da Comissão de Ética Pública Marcílio Marques Moreira de que se afastasse da presidência do PDT. A comissão considerou incompatível o acúmulo do cargo de presidente do partido com o de ministro do Trabalho. Lupi disse na reunião que se sentiu ¿humilhado¿ ao saber da decisão do colegiado pela imprensa.

Além do acúmulo de cargos, o ministro vem sendo acusado de liberar verbas para redutos do PDT. ¿Ele está sendo acusado de favorecimento do PDT. Não está sendo acusado de corrupção¿, ressaltou Péres. ¿Qual ministro não beneficiou seu partido? Isso é natural¿, afirmou Manoel Dias, secretário-geral do PDT, que deverá substituir Lupi.

O discurso praticamente uniforme em defesa de Lupi foi acertado no começo da tarde de ontem. Um grupo de deputados foi ao Ministério do Trabalho combinar uma ação pública de apoio ao ministro. ¿Combinamos dar total apoio a ele¿, resumiu o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Ficou decidido que seria feita uma nota de solidariedade ao ministro.

¿Esta nota visa a demonstrar apoio e solidariedade ao nosso companheiro, o presidente e ministro Carlos Lupi¿, diz a mensagem, divulgada depois da reunião. Em contrapartida, Lupi comprometeu-se a deixar a presidência do partido para não desgastar ainda mais a sigla.

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