Título: Brasil volta a ser líder em juro real
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2008, Economia, p. B4

Isso ocorrerá se o Copom mantiver a Selic em 11,25% ao ano na reunião de hoje, como apostam os analistas

O Brasil deverá retomar a liderança dos maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo, depois de sete meses ocupando a segunda colocação. De acordo com levantamento feito pela consultoria UPTrend, se o Comitê de Política Monetária (Copom) optar, mais uma vez, pela manutenção da taxa Selic em 11,25% ano na reunião de hoje, o juro real brasileiro ultrapassará o da Turquia, até então líder no ranking mundial.

A diferença entre a taxa dos dois países é mínima: 6,73% ao ano no Brasil e 6,69% na Turquia. Segundo o economista-chefe da UPTrend, Jason Vieira, a explicação para a mudança no ranking é a retomada do ciclo de queda dos juros por parte da Turquia, enquanto o Brasil ficou estacionado em 11,25% ao ano desde outubro. Além disso, a inflação voltou a se comportar bem nas últimas semanas, destacou ele.

No ranking de juros nominais, sem descontar a inflação, o Brasil está fora da liderança pelo 11º mês consecutivo. Independentemente de qualquer decisão do Copom hoje, o País permanecerá na terceira colocação, atrás da Venezuela (17,5%) e da Turquia (15,4%). Mas, com os sucessivos cortes de juros do país turco, o Brasil corre o risco de ganhar posições nos próximos meses e passar para o segundo lugar, diz o economista.

Segundo ele, a baixa inflação, os resultados positivos do setor externo, o cenário político estável e taxas de juros ainda elevadas fizeram do Brasil um dos principais alvos de investimentos entre os países emergentes. Vieira destaca que isso pode ser verificado no comportamento do real ante o dólar nos últimos meses.

Para o economista da Austin Rating, Alex Agostine, apesar do longo ciclo de queda dos juros, interrompido em outubro, a Selic continua muito elevada na comparação com a média mundial. Mesmo assim, ele não acredita que o Banco Central (BC) faça qualquer alteração nas taxas na reunião que termina hoje.

Mas Agostine está otimista. Ele não descarta a possibilidade de o BC voltar a reduzir as taxas no fim deste ano. Na avaliação dele, haveria espaço para mais dois cortes de 0,25 ponto. O economista avalia que o início da safra deve ajudar a derrubar os preços de produtos agrícolas e contribuir para arrefecer os índices de inflação. ¿Hoje o risco inflacionário é menor que no fim do ano passado e em janeiro.¿

Ele não concorda com os especialistas que atribuem a elevação dos índices de preços ao aumento de demanda interna. ¿O aumento do consumo está concentrado em bens duráveis, que dependem de financiamento. Esses produtos não pesam muito na cesta básica do consumidor.¿ Quanto ao aumento dos preços dos alimentos, ele atribui o aumento à demanda internacional e a fatores sazonais e climáticos.

O presidente do Citi no Brasil, Gustavo Marin, não descarta a possibilidade de o Copom ter de elevar juros este ano. Segundo ele, o banco trabalha com 30% de probabilidade de BC elevar a Selic em 2008. ¿O BC está monitorando o nível de atividade e os índices de inflação. Se houver repasse de custos para os preços, há, sim, possibilidade de o Copom elevar os juros no País.¿

No mercado financeiro, a aposta majoritária é de manutenção da Selic nessa reunião. Muitos acreditam que não haverá unanimidade na votação.