Título: Petrobrás pode trabalhar com margem negativa
Autor: Lima, Kelly; Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2008, Economia, p. B9

Estratégia para evitar o repasse da alta de preços internacionais para o mercado interno afetaria o refino

O diretor-financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, sugeriu ontem que a companhia poderia operar com margens negativas no refino, em vez de repassar alta dos preços internacionais para o mercado doméstico.

Em resposta a analistas do mercado financeiro, o executivo atenuou a questão: ¿Trabalhar com margem negativa não é incomum na indústria e por isso mesmo temos a vantagem de ser uma empresa integrada. Às vezes perdemos margem de um lado, mas ganhamos de outro¿, disse o diretor, frisando que a Petrobrás ¿pode administrar situações como esta tranqüilamente¿.

Ele lembrou que 75% do óleo refinado pela empresa é produzido no Brasil e tem custo inferior às cotações de referência no mercado internacional. Segundo dados da própria empresa, o petróleo brasileiro foi vendido às refinarias, em média, por US$ 76,75 por barril no quarto trimestre de 2007.

O valor é US$ 12 abaixo da cotação do Brent, negociado em Londres. ¿Compensamos aí a nossa diferença¿, disse. No período, os derivados da empresa tiveram um preço médio de US$ 89,1 por barril. Ou seja, a margem de refino ficou em pouco mais de US$ 12 por barril.

Mesmo assim, a manutenção dos preços foi alvo de críticas do mercado financeiro, que atribuiu à estratégia a queda de 17% no lucro da companhia. Em relatório distribuído durante o dia, o banco UBS destaca que a empresa poderia ter lucrado mais caso repassasse para o mercado interno a alta das cotações internacionais.

¿A Petrobrás poderia ter feito muito mais com a elevação dos preços domésticos do combustível¿, diz o texto.

¿Estamos acompanhando os preços, não na sua totalidade, mas temos que olhar todo o avanço dos preços e como eles se comportam num longo prazo. Em 2007, por várias vezes o preço no mercado doméstico foi superior ao internacional¿, argumentou Barbassa.

O diretor também destacou que, se houver recessão econômica mundial, a empresa ¿pode conter os preços¿.

A queda do lucro em 2007 repercutiu mal no mercado financeiro. As ações preferenciais da empresa fecharam o pregão de ontem na Bovespa em queda de 2,78%. ¿Consideramos o resultado abaixo do esperado, mesmo tendo alertado, na nossa prévia, para uma perspectiva negativa para este evento¿, disse Felipe Cunha, da Corretora Brascan, destacando o maior custo do refino, custos de administração e a deterioração ¿compreensível¿ da rentabilidade operacional por conta da entrada de quatro novas unidades de produção.

CAPTAÇÃO

A Petrobrás quer captar este ano US$ 10 bilhões, incluindo emissões no mercado de capitais e também recursos obtidos de instituições financeiras, disse Barbassa. Segundo ele, desse total US$ 5 bilhões já foram captados nos dois primeiros meses de 2008, sendo US$ 750 milhões no mercado e a maior parte proveniente do BNDES e do JBIC, banco de fomento japonês, sócio da empresa em alguns projetos no País.

O diretor frisou também que o volume de dinheiro a ser captado este ano é bem maior que o total de US$ 6 bilhões obtidos em 2007.

FRASE

Almir Barbassa Diretor da Petrobrás

¿Estamos acompanhando os preços, não na sua totalidade, mas temos que olhar todo o avanço dos preços e como eles se comportam num longo prazo. Em 2007, por várias vezes o preço doméstico foi superior ao internacional¿