Título: Quatro mil recebem 'quentinhas' para ouvir Lula no Tocantins
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2008, Nacional, p. A4

Em solenidade com 28 prefeitos aliados, presidente acusa oposição de só pensar em 2010 e de usar pobres como `moedas eleitorais

Atraídas pela oferta de 4 mil ¿quentinhas¿ pelo governo do Tocantins, uma multidão ouviu ontem, em evento no município de Dianópolis, no sudeste do Estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusar a oposição de só pensar nas eleições de 2010 e usar os pobres como ¿moedas eleitorais¿. Em um palanque com 28 prefeitos aliados, muitos já em campanha oficiosa pela reeleição, ele entregou títulos de lotes irrigados por uma barragem no Rio Manuel Alves, a 204 quilômetros de Palmas.

Do total de terras distribuídas, 2,3 mil hectares foram repassados para cinco empresários. Outros 2,2 mil hectares serão divididos entre 58 famílias de pequenos agricultores, segundo o governo do Estado.

Sem citar esses números, Lula afirmou que o seu governo dá preferência aos mais pobres. ¿Uma mãe tem de se preocupar com o pequeno que não come¿, disse ele, às 4 mil pessoas presentes. Elas foram levadas para o evento em 40 ônibus fretados pelo governador do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), e pelo prefeito e candidato à reeleição de Dianópolis, José Salomão Jacobina Aires (PT).

Ao rebater críticas aos projetos sociais do governo, o presidente afirmou que, no Brasil, pobre só é bem tratado por outros políticos na eleição. ¿É o único dia em que o pobre vira top model¿, avaliou. Depois, voltou a criticar a oposição pelo fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF): ¿Eles pensam: `Ah!, o Lula vai ficar chorando.¿ Mas vou dizer uma coisa para vocês: quem nasceu em Garanhuns e não morreu até os cinco anos, de fome, não vai morrer no caminho. A oposição quer criar dificuldades¿, disse. ¿Derrubaram a CPMF para eu não ter, até o final do mandato, R$ 120 bilhões¿, avaliou.

¿É assim que funciona a cabeça de algumas pessoas no Brasil, só pensam naquilo, só pensam naquilo, só pensam naquilo¿, queixou-se. ¿Marcelo e eu temos de pensar não é em 2010, é no agora; como esse povo vai comer, beber, morar?¿ Prefeitos se acotovelavam para sair em fotos que poderão, segundo assessores, ser aproveitadas em santinhos na campanha.

Lula prometeu fazer do Brasil um país de ¿classe média¿, aumentando o poder aquisitivo das pessoas que hoje estão nas classes mais baixas. ¿O que eu quero é estabelecer um processo de política para elevar os de baixo¿, afirmou. Em seguida, fez uma defesa do Bolsa-Família, programa de transferência de renda do governo.

PRATO FEITO

Logo após o evento com o presidente, sob um sol escaldante, a multidão formou uma fila de mais de 500 metros para receber um prato descartável de alumínio com arroz, feijão, carne e mandioca, além de um garrafa de 250 ml de refrigerante.

Não havia registro em eventos presidenciais do governo Lula de oferta de almoço em solenidades públicas.

A Prefeitura de Dianópolis informou que a comida foi oferecida pelo governo do Estado. Segundo informaram assessores estaduais, a equipe de apoio do Planalto foi avisada com antecedência da distribuição de ¿quentinhas¿, a 300 metros do local da solenidade.