Título: Acúmulo de reservas faz prejuízo do BC crescer para R$ 47,5 bilhões
Autor: Nakagawa, Fernando; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2008, Economia, p. B9

Resultado negativo em 2007 foi 254% superior ao de 2006 por causa da desvalorização do dólar ante o real

O Banco Central (BC) anunciou ontem que teve prejuízo de R$ 47,514 bilhões no ano passado, valor 254% maior que o de 2006. A perda é efeito da valorização do real, que elevou o custo da estratégia do BC de acumular reservas e reduzir as oscilações do dólar no mercado. O prejuízo será coberto pelo Tesouro Nacional.

A perda total do BC com o câmbio somou R$ 55,595 bilhões. O balanço, aprovado ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mostra que o fortalecimento do real piorou as contas do BC. O prejuízo veio com as chamadas operações de swap e dos gastos com a acumulação e manutenção das reservas internacionais . Segundo o balanço, a despesa com esses dois itens foi 257% maior que em 2006.

O BC, presidido por Henrique Meirelles, teve perdas com a valorização do real porque mantinha em carteira R$ 43,7 bilhões em contratos de swap cambial no fim do ano passado. Nesse tipo de contrato, o BC tem de pagar às instituições financeiras que compram o papel sempre que a valorização do real supera a taxa de juros do período. O BC ganha se a variação do juro for maior que a do câmbio. Essas operações são feitas para reduzir volatilidade cambial excessiva no mercado.

Além disso, há o custo de manutenção das reservas internacionais, que ontem superaram os US$ 190 bilhões. Nesse caso, a perda ocorre porque esses recursos são mantidos em títulos normalmente denominados em dólar, que pagam juros menores que os praticados no Brasil.

Com a desvalorização do dólar ante o real, esses ativos perdem valor relativo. Sem o efeito cambial, a autoridade monetária teria tido lucro de R$ 8,018 bilhões, mostra o balanço apresentado ontem.

O prejuízo registrado pelo BC vai ser coberto integralmente pelo Tesouro Nacional até o décimo dia útil de janeiro de 2009. Para isso, o Tesouro deve emitir novos títulos, que serão incorporados à dívida pública.

É o chamado custo fiscal da acumulação de reservas, que é freqüentemente criticado por economistas que avaliam que o nível das reservas já estaria elevado demais. O BC, entretanto, argumenta que o custo compensa, já que as reservas funcionam como um "seguro" para a economia brasileira enfrentar as turbulências internacionais.

"Os swaps cambiais e o carregamento, em seu ativo, dos recursos que compõem as reservas internacionais geram resultado negativo para o BC", cita comunicado distribuído pelo o banco.

O texto pondera, contudo, que o aumento das reservas internacionais "tem como objetivo reforçar a capacidade do Brasil de resistir a choques externos". Para a direção do Banco Central, a recente evolução da economia brasileira tem demonstrado "o acerto da política de ampliação das reservas".