Título: Lucro da Vale cresce pelo quinto ano seguido e chega a R$ 20 bilhões
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2008, Economia, p. B20

Ganho recorde supera em 48% os R$ 13,4 bilhões de 2006. Receita subiu 42%, chegando a R$ 66,4 bilhões

A Vale bateu em 2007 o quinto recorde consecutivo de lucro, com o expressivo saldo de R$ 20 bilhões. O valor representa quase cinco vezes o do resultado que iniciou a série, em 2003, que foi de R$ 4,5 bilhões. É também mais de 48% superior ao lucro de 2006. A receita operacional da mineradora, a segunda maior do ranking mundial, triplicou nesse período, passando de R$ 20,9 bilhões em 2003 para R$ 66,4 bilhões no ano passado.

Os números foram apresentados pela empresa ontem como resultado de um "processo sustentado por contínua melhoria do desempenho operacional e financeiro, maior diversificação do portfólio de ativos e globalização de suas operações". O balanço positivo foi apresentado no momento em que a empresa esbarra em dificuldades em sua proposta de compra da mineradora anglo-suíça Xstrata.

A consolidação da canadense Inco contribuiu com R$ 17,2 bilhões para o crescimento da receita. Esse valor é quase equivalente aos US$ 18 bilhões que a Vale pagou pela Inco, no final de 2006.

Também o preço dos produtos vendidos pela companhia adicionou outros R$ 4,9 bilhões. Esse aquecimento internacional do mercado foi suficiente para anular até mesmo os efeitos da desvalorização de 17,3% do dólar em relação ao real no ano passado, que reduziu em R$ 4,6 bilhões o resultado das vendas da empresa, que é a maior exportadora líquida do País. A Vale respondeu sozinha por 28,8% do superávit da balança comercial brasileira no ano passado.

Em 2007, a Vale, até muito recentemente bastante concentrada na produção de minério de ferro, obteve recordes na produção de nove diferentes produtos e conseguiu um mix mais bem dividido de suas operações. O minério de ferro continua como a principal produção, mas agora a companhia está mais presente em níquel, alumínio e cobre, principalmente.

A empresa que, no ano passado mostrou-se bastante otimista em relação aos rumos das economias brasileira e global, com conseqüentes vantagens para sua atuação, iniciou o ano um pouco mais cuidadosa. "As perspectivas sobre o crescimento da economia global em 2008 se deterioraram em conseqüência do impacto negativo da turbulência dos mercados financeiros sobre a atividade econômica, especialmente nos Estados Unidos", diz o texto distribuído ao mercado.

Apesar disso, coloca uma previsão positiva para este ano, sem recessão graças ao que considera como "dinamismo das maiores economias emergentes", como China, hoje o principal destino de suas mercadorias. Os chineses responderam por 17,5% do faturamento da Vale. O Brasil foi o segundo, com 14,6%, seguido de Japão (11,3%) e Estados Unidos (10,7%).

O lucro recorde da Vale não surpreendeu os analistas, que apostavam mesmo em um número em torno de R$ 20 bilhões. Mas o resultado bilionário aproxima um pouco mais a mineradora da maior empresa brasileira, a Petrobrás, que em 2006 registrou lucro de R$ 26,9 bilhões. A petroleira divulga seu resultado financeiro de 2007 na semana que vem. A expectativa do mercado é de que o lucro da Petrobrás caia, ficando em torno de R$ 22,4 bilhões.

Preocupada em manter a classificação de "grau de investimento", obtida das agências internacionais de rating há quase três anos, a Vale destacou no balanço que seus indicadores de endividamento continuam a evidenciar "perfil de baixo risco". A dívida total, em dezembro, era de pouco mais de US$ 19 bilhões, US$ 3,5 bilhões abaixo da registrada em 2006. A empresa teve também uma geração de caixa recorde, de R$ 33,6 bilhões, garantida principalmente pela venda de minerais ferrosos, responsáveis por quase 48% do total do caixa.

A Vale teve também o maior volume de investimentos da indústria de mineração no mundo inteiro: US$ 7,6 bilhões, valor 58% superior ao investido em 2006. Com aquisições, a empresa gastou mais US$ 3,4 bilhões, mas a maior parte disso correspondeu ao pagamento da última parcela da compra da Inco, de US$ 2 bilhões.

A empresa acredita que continuará a crescer no período 2008-2012, e fez questão de destacar que vai investir em infra-estrutura, um recorrente apelo do presidente Lula. "Para apoiar a expansão das operações, a companhia continuará a investir na infra-estrutura de logística, fundamental, por exemplo, para dar suporte aos projetos de minério de ferro, e energia elétrica."