Título: Cientistas reduzem passo ao aplicar verba federal
Autor: Formenti, Lígia ; Recondo, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2008, Vida, p. A24

Cientistas brasileiros contemplados com verbas federais para realizar pesquisas com células-tronco embrionárias humanas esperam ansiosos pelo fim do julgamento, no Supremo Tribunal Federal, da constitucionalidade do artigo 5º da Lei de Biossegurança. Quem aposta em sua manutenção, mantém a pesquisa. Quem teme o impacto do resultado negativo, diminui o ritmo.

As células-tronco embrionárias humanas compõem a principal linha de pesquisa do laboratório de Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 'Se tiver de parar, vou me sentir amputado.' Por causa da indefinição, apenas dois de seus alunos trabalham nesse campo. Usam linhagens importadas que, diz o cientista, também podem ser interrompidas caso o artigo 5º seja revogado: 'Por enquanto (o artigo) está valendo. Tenho de 'pagar para ver'.'

Em agosto de 2005, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) publicou um edital específico para pesquisas com células-tronco. Seis envolviam estudo com as embrionárias.

'Queríamos trabalhar com embriões, mas optamos por parar', explica Lidia Guillo, da Universidade Federal de Goiás (UFG). A verba que recebeu do CNPq foi aplicada em pesquisas com células animais, para desenvolver a técnica que, espera Guillo, possa depois ser aplicada em células humanas.

Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo (USP), é a que mais investiu, a despeito da indefinição. Ela trabalha com embriões obtidos em clínicas de fertilização assistida sob os critérios determinados em lei e desenvolveu três linhagens de células-tronco embrionárias nacionais. 'A Adin não impediu o edital', diz. 'A gente tocou a vida com o que tinha.'

José Eduardo Krieger, do Instituto do Coração, espera que o STF aprove a pesquisa a tempo de testar, em material humano, a diferenciação induzida de células-tronco por estímulo mecânico. Para ele, a ocasional proibição das pesquisas deixaria o Brasil em desvantagem. 'Seria um tremendo retrocesso', afirma. 'Quando você tem o conhecimento fica mais audacioso.'

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