Título: Medidas são inócuas, dizem economistas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2008, Economia, p. B3

Tendência mundial é de desvalorização do dólar em relação às demais moedas, e não deverá mudar

Economistas consideraram inócuo o conjunto de medidas que o governo deverá anunciar hoje para conter a desvalorização do dólar em relação ao real. A provável decisão do governo de acabar com a cobertura cambial e de tributar o capital estrangeiro aplicado em títulos públicos não deve mudar a dinâmica do mercado mundial, que é de desvalorização dólar em relação às demais moedas. Essa tendência ganha força especialmente nos países emergentes, observaram especialistas.

¿Dentro do plano razoável, não há nada que possa conter o real¿, afirmou o sócio-diretor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros. Segundo ele, a valorização do real está ligada ao cenário externo, ao temor de uma recessão nos Estados Unidos, que desencadeou um movimento mundial de queda do dólar. ¿O que comanda o valor atual é a turbulência externa. Sou cético quanto à existência de instrumentos para segurar o dólar.¿

O ex-diretor do Banco Central (BC) Emílio Garofalo disse que as medidas são relevantes e o governo deve adotá-las porque está preocupado com o saldo de transações correntes a médio prazo. Segundo o economista Edmar Bacha, as contas externas mudarão de forma substancial num horizonte de 12 meses, pois devem variar de um saldo positivo de US$ 3,55 bilhões em 2007 para um déficit de US$ 9 bilhões em 2008.

Apesar da importância das medidas, Garofalo acredita que elas não deverão mudar a tendência estrutural de valorização do real em relação ao dólar. Para conter a valorização do câmbio é preciso reduzir os juros, disse, referindo-se ao elevado diferencial das taxas reais entre Brasil e EUA, que estão hoje por volta 8,5% ao ano.

¿São medidas paliativas¿, afirmou o sócio da RC Consultores, Fábio Silveira. O economista ressalta que o aspecto positivo do pacote é evitar que ¿o dólar derreta¿. Ele observou também que, por causa da pouca efetividade das prováveis medidas para conter a desvalorização do dólar, elas impedirão que a forte elevação dos preços das commodities se transforme em inflação ao consumidor.

Assim como Garofalo, Silveira acredita que a melhor alternativa para conter a desvalorização do dólar seria a redução da taxa de juros num momento mais oportuno. ¿Os bons fundamentos da economia brasileira e a maior taxa de juros do planeta acabam intensificando a entrada de capitais.¿

Diante do cenário positivo no País, o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, acredita que nenhum investidor deixe o dinheiro fora do Brasil, a menos que a taxa de juros recue. ¿As medidas são inócuas. Aqui se ganha dinheiro mais que em qualquer outro lugar.¿

Na opinião da economista-chefe para o Brasil do Banco Real, Zeina Latif, o pacote não mudará a dinâmica do mercado de câmbio. ¿O dólar está se depreciando no mundo num contexto de cotações elevadas das commodities que beneficiam principalmente os países emergentes¿, disse a economista.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, também se mostrou cético em relação ao pacote cambial para deter a alta do real. ¿Sou contra qualquer pacote. O dólar vai achar o seu patamar.¿ RICARDO LEOPOLDO, LUCIANA XAVIER, MÁRCIA DE CHIARA E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS