Título: Ação coordenada de BCs mundiais injeta mais de US$ 200 bi no mercado
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2008, Economia, p. B4

Rumores de novas perdas de bancos americanos levaram ao anúncio de novo pacote de ajuda financeira

A preocupação com a saúde financeira das instituições americanas, intensificada desde sexta-feira com rumores de novas perdas de bancos de investimentos, obrigou o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a anunciar um novo pacote de ajuda para aumentar a liquidez do mercado de crédito.

Entenda a crise dos EUA

A ação prevê a troca de títulos lastreados em hipotecas por títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries, no valor de até US$ 200 bilhões, durante 28 dias. A intenção é melhorar a qualidade das garantias dos investidores, explicam os analistas.

Além disso, o Fed anunciou a ampliação de acordos já existente que elevam em US$ 12 bilhões o volume de dinheiro disponível para o Banco Central Europeu (BCE) e Banco Nacional Suíço (SNB) até o fim de setembro. As duas autoridades monetárias também decidiram tomar medidas individuais que vão injetar cerca de US$ 21 bilhões no mercado.

O mesmo ocorreu com a Inglaterra (US$ 20 bilhões) e o Canadá (US$ 4 bilhões). No total, os cinco bancos centrais vão elevar a liquidez mundial em cerca de US$ 250 bilhões.

A ação conjunta fez o mercado financeiro respirar aliviado, mesmo que temporariamente. Depois do nervosismo da segunda-feira, as bolsas mundiais fecharam o dia em terreno positivo. Em Wall Street, o Dow Jones teve o quarto maior ganho de todos os tempos e o maior desde 29 de julho de 2002. O índice subiu 3,55%, para 12.156 pontos, com destaque para as ações do setor financeiro. Os papéis da American Express subiram 9,47%; Citigroup, 9,14%; Bank of America,6,83%; JP Morgan Chase, 6,47%; e AIG,4,89%). O Nasdaq subiu 3,98%.

As bolsas européias acompanharam o bom humor americano e também fecharam com valorização. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a superar os 60 mil pontos. Terminou o dia com avanço de 3,95%, em 62.367 pontos. O dólar caiu 1,23%, para R$ 1,685. Já o risco País despencou 6,05%, para 264 pontos.

Apesar do alívio de ontem, nem todos os economistas se convenceram de que o pacote seja suficiente para estancar a crise. Para o economista-chefe para América do Norte do Merrill Lynch, David Rosenberg, o novo programa não vai aliviar o atual aperto no crédito ou a recessão econômica.

Segundo ele, o tamanho dos leilões, embora consideráveis em termos de balanço do Fed, são pequenos perto da situação geral de crédito e não resolve as massivas baixas contábeis e perdas do setor bancário que estão em andamento nesse ciclo. Ele lembra que o mercado de ativos lastreados em hipotecas soma cerca de US$ 6 trilhões.

¿O grande problema é que não se sabe o tamanho do rombo que esse mercado provocou. O pacote ajuda, mas não é a solução¿, destacou o diretor da Corretora Concórdia, Licinio Neto. Ele pondera, entretanto, que as medidas do Fed têm sido pontuais e firmes.

O sócio responsável pela área internacional da Paraty Investimentos, Rodrigo Donato, também defende a atuação do Fed diante do risco sistêmico de quebra de instituições financeiras. ¿As medidas do Fed tentam diminuir esse risco.¿ Nos últimos dez dias, a percepção de estresse no mercado de crédito piorou, com elevação significativa dos spreads e boatos de quebra de bancos, completa o economista do banco West LB, Roberto Padovani. ¿Nesse cenário, é razoável que as autoridades monetárias busquem novas alternativas para resolver o problema de curto prazo.¿

Para o economista da López León, Flávio Serrano, a volatilidade vai persistir, já que os investidores estão com pensamento negativo por causa do elevado risco de o sistema financeiro americano entrar em colapso. ¿Mas o conjunto de medidas anunciadas até agora poderá ser positiva mais no futuro.¿ COLABOROU SUZI KATZUMATA COM DOW JONES NEWSWIRES

REAÇÕES

Max Bublitz Estrategista da SCM Advisors

¿É o segundo band-aid de liquidez aplicado ao mercado de crédito nos últimos três dias e uma tentativa desesperada de chegar à reunião do dia 18 sem perder a paciência¿

Drew Matus Economista do Lehman

¿É a decisão mais esperta que já vi o Fed tomar há muito tempo¿

David Rosenberg Economista-chefe para a América do Norte do Merrill Lynch

¿O tamanho dos leilões, embora consideráveis em termos de balanço do Fed, são, na verdade, razoavelmente pequenos à luz da situação geral de crédito e de forma alguma isso resolve - ou tem a intenção de resolver - as massivas baixas contábeis e perdas do setor bancário que estão em andamento¿

Adam Cole Estrategista cambial do RBC Capital Markets

¿Não é que a perspectiva para a economia dos Estados Unidos tenha melhorado dramaticamente, mas ajuda o mercado a caminhar enquanto isso estiver rolando¿