Título: Governo diz seguir padrão da OMS
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2008, Vida&, p. A33

Segundo o ministério, a forma de divulgação adotada viabiliza a comparação entre regiões e países

O Ministério da Saúde informou que a divulgação de dados sobre a dengue no País - classificando-a em clássica, febre hemorrágica (dengue hemorrágica) e mortes por dengue hemorrágica - segue padrões estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ¿no sentido de buscar viabilizar a comparação dos dados entre regiões, países e continentes¿.

A OMS define as apresentações como dengue clássica, dengue com complicações, febre hemorrágica da dengue e síndrome do choque da dengue, sendo que essa última é um quadro de ausência de pressão arterial que ocorre em pacientes com dengue hemorrágica, segundo especialistas. A pasta diz que o País é um dos que atuam para a mudança nas classificações. Especialistas defendem que a dengue seja monitorada como uma doença só, que pode variar de benigna a fatal, dependendo do paciente.

Segundo o ministério, a dengue com complicações tem um diagnóstico que envolve ¿avaliações subjetivas dos médicos¿, o que justificaria a não-divulgação das mortes. No entanto, o próprio ministério tem em seu site na internet manuais que orientam os médicos em diagnósticos dos diferentes quadros da doença. ¿A divulgação dos casos de dengue com complicações que evoluíram para o óbito é, em tese, menos precisa¿, informou o ministério. A pasta não explicou a razão de não divulgar as mortes por dengue clássica. No Estado de SP, em 2007, por exemplo, as mortes por dengue clássica e dengue com complicações superaram as por dengue hemorrágica. O ministério demorou 18 dias para fornecer ao Estado dados sobre as mortes por outras formas da doença, mas destacou que tem concedido entrevistas e divulgado boletins.

MAIOR MORTALIDADE

A Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério explicou ainda que a maior letalidade da dengue no País está atrelada principalmente à circulação simultânea de mais de um sorotipo do vírus, o que leva uma mesma pessoa ser infectada mais de uma vez em um período inferior a cinco anos, por exemplo. ¿Essa situação provocaria uma reação exacerbada do organismo do paciente, que levaria às complicações e à FHD (dengue hemorrágica). ¿ Ainda de acordo com a pasta, outras causas seriam pessoas ¿com algumas doenças de base, como hipertensão arterial, diabetes e asma.¿

Para Luiz Jacintho da Silva, ex-superintendente de Controle de Endemias do Estado de São Paulo, os governos, sucessivamente, querem mostrar apenas dados positivos . ¿Os governos fazem campanhas eleitorais contínuas e têm de mostrar as coisas melhorando. Não é neste governo ou outro, são os governos em geral¿, diz Silva.