Título: Renner perto de comprar a Leader
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/03/2008, Negócios, p. B17
Valor da aquisição da rede é estimado em R$ 700 milhões
A varejista Renner anunciou ontem que negocia a compra da rede fluminense Leader Magazine, especializada em cama, mesa, banho e vestuário. O negócio está sujeito à análise dos dados financeiros da empresa, a chamada due diligence, que pode durar até 120 dias. O valor do negócio não foi divulgado. Analistas e fontes do mercado estimam que a rede saia por cerca de R$ 700 milhões. ¿Não vamos incorporar a Leader. Queremos manter as duas marcas independentes¿, afirma José Galló, presidente da Renner.
Embora seja uma grife forte no Rio de Janeiro - Estado onde estão 30 das suas 38 lojas -, o objetivo da aquisição não é de ordem geográfica. Segundo Galló, a compra dará à Renner uma oportunidade de vender para o público das classes C e D. ¿É onde estão acontecendo as coisas hoje. E a Renner não vende para esse público¿, diz Galló.
A Leader foi disputada palmo a palmo pela Renner e pelo fundo de private equity Advent, que é dono, entre outros negócios, da rede de restaurantes Viena. As negociações começaram em novembro do ano passado. ¿A Renner chegou com uma boa proposta e acabou levando¿, diz uma fonte do mercado. ¿A Leader é uma empresa lucrativa e com uma operação de cartões muito bem administrada. Suas lojas têm uma localização muito valiosa.¿
A empresa - criada nos anos 50 pela família Gouvêa na cidade de Miracema (RJ), iniciou um processo de profissionalização há dois anos. Contratou a consultoria Alvarez & Marsal para ajudá-la nessa fase e, no ano passado, deu início a um projeto ambicioso de expansão. Foram abertas nove lojas, sendo três em Minas Gerais. Para isso, levantou um financiamento de R$ 29 milhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Há quem acredite que a empresa já estava sendo preparada para ser vendida. Outros suspeitam que a Renner é quem foi atrás do negócio, o que acabou atraindo o interesse do fundo de investimentos. Juntas, as duas empresas terão um faturamento bruto acima de R$ 3 bilhões e uma rede de 133 lojas. Segundo Galló, a Leader tinha um problema sucessório. ¿A geração mais nova tinha outra vocação¿, diz o executivo.
Durante anos a empresa carioca foi mais conhecida pelas áreas de cama, mesa e banho, segundo um ex-executivo de uma concorrente da Leader. Hoje, também é forte em vestuário - mais da metade das vendas já vem dessa área.
Com a falência da Pernambucanas no Rio de Janeiro na década de 90, a Leader ocupou o espaço da rede e reforçou sua atuação em vestuário. Foi quando atingiu 15 lojas e abriu uma fábrica no interior do Rio, que atualmente abastece 30% das roupas femininas e infantis vendidas nas lojas. Em 2002, criou a Leadercard, para administrar cartões de crédito de marca própria e prestar outros serviços financeiros aos clientes. Metade do negócio pertence ao Bradesco. Os cartões são usados por 3 milhões de clientes.
Segundo Galló, a Renner só vai decidir o que fazer com a operação da Leader após a análise dos dados financeiros. A Renner, por exemplo, não produz nenhuma peça que vende. Por isso, não sabe se vai manter a fábrica de roupas. É possível que as áreas de cama, mesa e banho, setores em que a Renner não atua, sejam mantidos.
A aquisição foi bem recebida pelo mercado. A analista do Unibanco Juliana Rosembaum revisou o preço da ação da Renner para cima - de R$ 31,41 para R$ 44,20. ¿A Leader adiciona um valor estratégico para a Renner¿, afirma Juliana. ¿A administração da Renner é muito conservadora e não faria uma aquisição cara só pelo valor estratégico. Eles devem ter oferecido um bom preço.¿
VEDETES
As classes C e D são as grandes vedetes do varejo nacional. Com mais renda e mais crédito, o brasileiro dessa faixa de renda passou a comprar mais roupas e alimentos. O público é disputado por grandes cadeias, como Pernambucanas, Riachuelo e Marisa, que levantou R$ 506 milhões na oferta inicial de ações (IPO) no segundo semestre do ano passado. Segundo Galló, a Marisa tem o perfil que mais se aproxima da Leader.
A Marisa tornou-se uma rival de peso para a Renner. Ela teve um crescimento de 37,3% no ano passado, enquanto as vendas da Renner cresceram 22% - no conceito mesmas lojas, a receita líquida cresceu 14,4%. A Marisa tem um plano agressivo de expansão. Só no quarto trimestre inaugurou 23 lojas e ampliou ou reformou outras 11. No ano, foram 35 inaugurações e 24 reformas.
Na época do IPO, em 2005, a Renner tinha um plano de abrir oito lojas por ano. Nos últimos dois anos, extrapolou essa meta - foram 29 lojas no período. A previsão é manter o ritmo em 2008.