Título: Após uma semana, comissão dos cartões já perde força
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/03/2008, Nacional, p. A4

Oposição pressiona para abrir sigilo de gastos da Presidência; base resiste

A CPI dos Cartões mal começou e já corre o risco de ser esvaziada. Motivo: os partidos de oposição ameaçam abandonar os trabalhos, em represália à decisão da base aliada de rejeitar qualquer requerimento com a quebra de sigilo dos gastos com cartões corporativos da Presidência. O enredo aproxima a comissão da CPI das ONGs, que também patina na apuração.

¿Não podemos legitimar a farsa. Se não for quebrado o sigilo desses gastos, a CPI não se justifica¿, argumentou ontem o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). ¿A CPI não terá porquê existir, à medida em que forem derrotados todos os requerimentos que pedem a transferência de sigilo com os gastos das contas secretas¿, emendou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Depois da Semana Santa, o PSDB e o DEM pretendem reunir-se para decidir qual atitude vão tomar em relação às próximas semanas. A oposição está dividida sobre abandonar ou não a comissão. ¿Se sairmos, vamos entregar o ouro ao bandido. Eu não saio, vou até o final¿, avisou ontem o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA).

Parlamentares da base aliada alegam que a ameaça da oposição de abandonar a CPI não passa de uma estratégia para interromper os trabalhos e, dessa forma, acabar com a comissão. Os governistas argumentam que a oposição não quer investigar as contas tipo B - em nome de um funcionário que emite cheques e recebe os depósitos.

ÁLIBI

¿A oposição quer criar um álibi para abandonar a CPI¿, acusou o deputado Silvio Costa (PMN-PE), um dos integrantes da tropa de choque do governo.

Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), a oposição está mais preocupada em ¿transformar a CPI em um show¿. ¿Eles querem o fim da CPI. A impressão que tenho é de que insistem na transferência do sigilo das contas secretas para maximizar: ou é isso ou é nada¿, afirmou o petista. ¿Desde que existe o Estado brasileiro que existem as contas secretas.¿

Os gastos feitos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), pela Polícia Federal, pelas Forças Armadas e pela Presidência são considerados sigilosos. ¿São gastos heterodoxos com a segurança do Estado¿, observou Teixeira. Com maioria folgada de votos na comissão dos cartões, os parlamentares da base governista já avisaram que vão derrubar todos os requerimentos que abrem o sigilo das contas secretas.

Na primeira semana de funcionamento da CPI, a base aliada não rejeitou logo as propostas de abertura de sigilo - para não ser acusada de estar enterrando a comissão. Um acordo entre governo e oposição pôs a CPI em ¿banho-maria¿, com a aprovação de um requerimento que pede o envio de dados dos gastos não-secretos nos últimos dez anos com contas tipo B e cartões corporativos.

Dados apresentados pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), apontam despesas de R$ 1,16 bilhão com o suprimento de fundos. Desse total, R$ 1 bilhão foi através de contas tipo B e R$ 160 mil com os cartões corporativos.

Nesta segunda semana de funcionamento, a CPI ouvirá o depoimento de autoridades do governo. Amanhã, receberá o ex-ministro do Planejamento Paulo Paiva, que comandou a pasta entre 1998/1999, época em que foram criados os cartões corporativos.