Título: Ex-refém relata fuga frustrada das Farc ao lado de Ingrid
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2008, Internacional, p. A14

Ex-senadora é maltratada pela guerrilha, que ela confronta abertamente, desde episódio de 2005

Bogotá

Há seis anos em poder da guerrilha colombiana, a ex-candidata à presidência da Colômbia Ingrid Betancourt sofre de hepatite B - doença infecciosa que ataca o fígado e pode se tornar crônica. Os rebeldes a consideram uma ¿burguesa¿ e desde uma tentativa de fuga, em 2005, obrigam-na a andar descalça pela selva e a dormir acorrentada em árvores. As revelações foram feitas ontem numa entrevista concedida à rádio colombiana Caracol pelo ex-senador e ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) Luis Eladio Pérez, que esteve com Ingrid no cativeiro. ¿As condições de reclusão são as de um campo de concentração¿, disse. ¿Fui hostilizado pela guerrilha porque fui contestador desde o início. Ingrid fez o mesmo com valentia excepcional.¿

Pérez foi entregue a autoridades venezuelanas na quarta-feira, juntamente com outros três ex-congressistas seqüestrados: Gloria Polanco, Jorge Eduardo Géchem e Orlando Beltrán. Companheiro de Ingrid na fuga frustrada, ele contou detalhes do episódio, que havia sido revelado por outros ex-reféns. A fuga foi idéia de Ingrid. Ela foi planejada inicialmente para 20 de julho de 2005, mas foi antecipada porque os guerrilheiros começaram a cercar o acampamento com arame farpado. ¿Era naquele momento ou nunca mais¿, afirmou Pérez.

Os dois reféns levaram consigo torrões de açúcar e bolachas. Por cinco dias atravessaram rios e dormiram com a roupa molhada. ¿Ingrid percebeu que eu estava mal. Falhei diante da imensa capacidade dela de enfrentar aquela situação¿, disse Pérez. Segundo ele, a ex-senadora era hábil em pescar e fazer fogo. Eles se entregaram porque problemas provocados pela diabete impediam Pérez de continuar.

PRESENTE

Os rebeldes não deixaram barato a insubordinação. Ambos foram acorrentados a árvores e obrigados a andar descalços. ¿Ingrid será presidente um dia¿, disse Pérez. ¿Ela é corajosa e tem propostas para mudar o país.¿ O ex-senador trouxe para a filha de Ingrid, Mélanie Delloye, um cinto tecido por ela. O presente foi entregue nos poucos minutos em que ele pôde conversar com a ex-senadora, há 23 dias. ¿Ela me disse: `aproveite cada minuto de sua liberdade¿.¿

O ex-congressista também relatou como as Farc utilizam os países vizinhos para conseguir abrigo e suprimentos. ¿Dormi no Equador. Usávamos botas equatorianas, desodorantes e remédios brasileiros e sabonetes venezuelanos¿, disse.

Ingrid faz parte do grupo de reféns políticos que as Farc se dizem dispostas a trocar por 500 rebeldes presos. Com a libertação dos quatro ex-parlamentares, o grupo hoje é composto por 40 seqüestrados: 33 militares, 4 políticos e 3 americanos - Thomas Howes, Marc Gonsalves e Keith Stansell -, que trabalhavam em operações antidrogas na Colômbia e foram capturados quando seu avião caiu na selva, há cinco anos.

Na entrevista, Pérez disse que passou os últimos seis meses de cativeiro com os americanos e concordou em levar cartas deles com mensagens para o presidente americano, George W. Bush, e os principais candidatos à Casa Branca. O material, porém, foi confiscado pelos guerrilheiros.

A libertação dos quatro ex-congressistas foi um gesto de apoio das Farc ao presidente Hugo Chávez, que está tentando atuar como mediador em um acordo humanitário. Na quarta-feira, Chávez anunciou que vai à Colômbia em março e fará propostas para a paz. EFE, AFP E AP

FRASE

Luis Eladio Pérez Ex-senador libertado na quarta-feira pelas Farc ¿As condições de reclusão são as de um campo de concentração. A guerrilha hostilizou-me porque fui contestador desde o início¿

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