Título: Petrobrás não consegue bancar toda a produção'
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2008, Economia, p. B4

O analista Gustavo Gatass, do banco UBS, colocou em dúvida a capacidade da Petrobrás de desenvolver simultaneamente todas as descobertas da região do pré-sal na Bacia de Campos. Apenas em Tupi, disse, a Petrobrás e seus sócios terão de desembolsar US$ 36 bilhões antes de começar a lucrar com a venda do petróleo. Para pôr todas as descobertas em produção, o UBS estima um custo entre US$ 635 bilhões e US$ 1,27 trilhão, dependendo do cenário.

Dos US$ 36 bilhões projetados, para iniciar o projeto Tupi, diz Gatass, a Petrobrás seria responsável por cerca de US$ 20 bilhões. "Esse investimento cabe no balanço da Petrobrás? Cabe. Mas não é só Tupi. É preciso saber se a empresa consegue tocar todos os projetos de uma só vez", destacou. Além de Tupi, a Petrobrás atualmente avalia, no pólo da Bacia de Santos, prospectos batizados de Júpiter, Carioca, Caramba, Bem-Te-Vi, entre outros.

Se os investimentos totais chegarem a US$ 1,27 trilhão, será inviável, na opinião do diretor do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Ivan Simões. "É quase o PIB brasileiro. Nenhuma empresa consegue fazer isso sozinha, nenhum país consegue."

Simões defendeu a participação de empresas privadas na exploração do pré-sal., em seminário promovido pelo IBP em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Também presente ao evento, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) concorda: "O momento não é de afastar essas empresas, é de trazer parceiros". Embora pertença ao partido do governo, o senador afirmou ser contra a criação de uma estatal para gerir as reservas do pré-sal.

Os palestrantes criticaram o fato de o debate sobre o destino da riqueza do pré-sal vir antes da discussão sobre a origem dos recursos para explorar o petróleo. "A questão do fluxo de recursos é tão ou mais importante do que o debate sobre o uso dos royalties, que deveria ser feito depois. O importante agora é saber como mobilizar volume tão grande de recursos para investimento", disse o diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni.