Título: BC vê inflação a caminho da meta
Autor: Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2008, Economia, p. B10

Para Meirelles, medidas adotadas pelo governo já apontam resultados

Célia Froufe

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reconheceu ontem que já existem sinais de que a inflação está convergindo para a meta. Durante aula magna para alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade Mackenzie, Meirelles ressaltou que o governo está tomando as medidas adequadas e o Brasil vive hoje um momento favorável, pois a economia está estabilizada. Ele destacou que essa situação é possível não somente por causa da inflação controlada, mas também porque a parte fiscal está apresentando resultados melhores. "Com as medidas tomadas, já estamos vendo sinais de que, de fato, a inflação está convergindo para a meta", afirmou, sem deixar claro quais seriam essas sinalizações.

Segundo o presidente do BC, a existência de fatores domésticos e internacionais - o aquecimento da demanda interna e a alta dos preços das commodities - torna mais difícil a análise da inflação. Para Meirelles, com a conjugação desses fenômenos é preciso lidar com os dois problemas ao mesmo tempo.

Para o presidente do BC, compete aos especialistas analisar todos os indicadores existentes, como os núcleos da inflação, para que não se configure um episódio de disseminação de alta dos preços no País. Meirelles ressaltou que o consumo das famílias tem crescido de forma mais estável do que no passado, ainda que esteja em nível mais elevado. "O mais importante é que não temos aquela volatilidade vista no passado."

Após explicar o funcionamento do regime de metas de inflação, o presidente do Bancos Central afirmou que, no mundo, a experiência mostra que inflação baixa e sob controle é condição básica para o crescimento econômico. Ele disse que o Banco Central mira o centro da meta de inflação, de 4,5%, mas ponderou que choques externos em algum momento podem desviar essa taxa para cima ou para baixo.

Durante a aula magna, Meirelles lembrou a hiperinflação do passado, quando algumas pessoas tinham até mesmo licença do trabalho para fazer compras no dia do pagamento do salário. "Resumindo: inflação alta é um desastre".

O presidente do BC lembrou que na segunda metade dos anos 90 o Brasil chegou a apresentar encolhimento do número de postos de trabalho, mas recentemente a criação de empregos no País aproxima-se dos 2 milhões. "A massa salarial real está crescendo acima da inflação. Isso significa que a população está ganhando mais", disse, atribuindo a esse comportamento o aumento de 10% ao ano das vendas do varejo, em termos reais, nos últimos anos.

Meirelles mencionou ainda que a produção industrial do País passou a crescer de forma importante a partir de 2003, e todos esses fatores juntos aumentam o nível de empregabilidade brasileira. Ele ressaltou ainda a expansão, num ritmo elevado, da produção de bens de capitais. Isso, segundo ele, demonstra que os empresários acreditam na continuidade do crescimento do País. "Além disso, o investimento está crescendo mais que o PIB, o que significa que o Brasil está investindo em seu futuro."

O presidente do BC destacou a melhora na distribuição de renda, com uma forte migração da população para a classe média, e enfatizou que a política de acúmulo e reservas internacionais tornou o País menos vulnerável externamente e credor líquido. "O Brasil está tendo a possibilidade de experimentar algo que boa parte do mundo já tinha experimentado antes."

DESAFIOS

Um dos maiores desafios do País hoje é prover mão-de-obra para promover o crescimento sustentado, ressaltou Meirelles. Segundo ele, "existe hoje grande demanda por profissionais qualificados".

Ainda sobre a questão da mão-de-obra qualificada, Meirelles mencionou que o momento é muito favorável aos engenheiros que estão se formando, porque a demanda por esses profissionais hoje é muito grande. "Aliás, faltam engenheiros no mercado", disse ele, lembrando que, quando se formou, o País também vivia um momento de crescimento, mas não havia por parte dos estudantes consciência de quanto a macroeconomia influenciava a vida de cada um.

Ele recordou também que houve uma época em que arquitetos formados acabavam atuando em outras áreas, mas hoje, com a melhora da economia, muitos estão voltando às suas profissões originais.