Título: Diplomata argentino é o pai da iniciativa
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/08/2008, Economia, p. B14
A idéia de unir Brasil e Argentina na produção de urânio enriquecido partiu de um reconhecido latino-americanista da chancelaria argentina, o ex-vice-chanceler Roberto García Moritán, aposentado em março. Apresentada no início do ano ao embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral das Relações Exteriores, a idéia foi levada em fevereiro aos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, sem passar por análise técnica. Adotada com entusiasmo, virou regra.
Com menos peso que Pinheiro Guimarães na formulação da política externa argentina, Moritán atuava como uma espécie de espelho do embaixador brasileiro no Palácio San Martín, sede do Ministério de Relações Exteriores. Diplomatas de carreira, eles são amigos de longa data dos seus chefes - os chanceleres Celso Amorim e Jorge Taiana -, defendem a prioridade de seus países na cooperação com os países vizinhos e acreditam na viabilidade do Mercosul.
A proposta dos embaixadores ecoou uma iniciativa dos primeiros anos de retomada da democracia nos dois países, que desembocou na integração comercial Brasil-Argentina e na criação do Mercosul. Em 1985, os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín firmaram a Declaração Conjunta sobre Política Nuclear, que contornou as perspectivas paranóicas de uma corrida armamentista. Em 1990, foi assinada a Declaração sobre Política Nuclear Comum Argentino-Brasileira.
Esse documento estabeleceu um sistema comum de controle de materiais nucleares e das instalações e deu sustentação a um passo mais ousado: a criação da Agência Argentino-Brasileira de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc). Um ano depois, a Abacc, a Agência Internacional de Energia Atômica e os governos do Brasil e da Argentina firmaram um acordo que consolidou o caráter pacífico das experiências dos dois países e de sua cooperação bilateral.