Título: Meirelles é duro contra a inflação
Autor: Fernandes, Nalu
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/08/2008, Economia, p. B7

Wall Street Journal elogia a atuação do BC frente à alta dos preços

Nalu Fernandes, NOVA YORK

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está entre os mais duros dirigentes de bancos centrais no combate à inflação no mundo, diz o diário nova-iorquino Wall Street Journal. ¿O Brasil não está esperando e não vai esperar outros presidentes de bancos centrais agirem para decidir lutar contra as pressões inflacionárias¿, afirmou Meirelles ao jornal.

Na última semana, ele cumpriu agenda nos Estados Unidos, onde fez palestra para investidores em Nova York, participou de um evento sobre economia mundial em Aspen e do simpósio anual organizado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) de Kansas City, cujo tema foi ¿Mantendo a estabilidade em um sistema financeiro em transição¿.

No caderno de finanças, a reportagem do Wall Street Jornal aponta que o BC brasileiro tem atuado mais agressivamente do que muitos dos bancos centrais contra a inflação, ao subir os juros para 13%, mesmo com a desaceleração da economia global. O jornal acrescenta que se espera nova elevação da Selic em setembro. No debate sobre quão agressivamente os bancos centrais precisam agir, o jornal cita que Meirelles e diversos economistas ¿argumentam que os bancos centrais deixaram a economia ficar excessivamente aquecida durante os últimos anos de crescimento e criaram pressões de preços que serão difíceis de erradicar¿.

Ao jornal, Meirelles disse que ¿cada país precisa fazer sua própria decisão (quanto ao juro)¿. ¿Nós podemos ver claramente que, quanto mais bancos centrais agirem decisivamente para controlar a inflação, mais fácil o trabalho fica para todos.¿

Mas o diário relata que outros BCs, particularmente na Ásia, não têm sido tão duros, esperando que a desaceleração nos preços de commodities ajude a resolver o problema de inflação para eles. ¿De longe, no mundo, o banco central que tem ficado à frente da curva é o do Brasil¿, disse ao Wall Street Jornal Michael Gomez, um dos gestores da Pimco para mercados emergentes, que administra US$ 80 bilhões em investimentos para esses países.

BOOM

O jornal narra que Meirelles, desde que assumiu o BC, em janeiro de 2003, tem ajudado a guiar o ¿boom¿ econômico brasileiro, no qual juros e inflação caíram para ¿baixas históricas¿, consolidando o lugar dele como pessoa de forte influência que tem a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Meirelles disse ao jornal que Lula garantiu ao banco ¿independência total¿ na tomada de decisão e tem mantido a promessa.

O diário reitera a afirmação de Meirelles de que a meta é trazer a inflação em 2009 de volta para 4,5% e diz que o presidente do BC ¿não vê muito espaço para leniência¿. ¿Quando há desequilíbrio entre oferta e demanda, ele diz que será corrigido com uma das duas formas: preços maiores ou juros maiores¿, completou o jornal. ¿A grande vantagem de usar o juro é que você tem alguém no banco do motorista. Quando a inflação está tomando conta, ninguém está dirigindo¿, disse Meirelles.

Na América Latina, apesar de exceções como Venezuela e Argentina, outros países têm apertado a política monetária desde julho, cita o jornal. ¿Se Meirelles e outros são conservadores em relação à inflação é pelo fato de que não muito tempo atrás a região estava perdendo a batalha. Entre 1980 e 1994, a inflação ficou bem acima de 100% ao ano no Brasil, atingindo o pico de mais de 2.000% no início da década de 1990.¿