Título: 'Argentina deveria adotar meta de inflação'
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2008, Economia, p. B29

Idéia é consenso entre economistas brasileiros e argentinos que debateram crise em evento no Rio

Alberto Komatsu

Com inflação anual ao redor de 30% e perspectiva de redução do crescimento econômico para 4,5% em 2009, ante a projeção de 6,5% para este ano, a Argentina poderia adotar um sistema de metas de inflação, a exemplo do Brasil, para tentar buscar a recuperação de sua economia. Esta foi uma das principais propostas debatidas ontem por economistas dos dois países durante o seminário ¿Economia argentina e perspectivas das relações com o Brasil e o Mercosul¿, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O evento foi realizado na sede da Confederação Nacional do Comércio (CNC), no centro do Rio.

¿No Brasil, o sistema de metas de inflação, mal ou bem, funciona. A Argentina, com uma inflação anual de 30%, aumenta sua volatilidade¿, afirmou a coordenadora de projetos do centro de estudos de setor externo da FGV, Lia Valls.

Ela lembrou que o Brasil, apesar de ter sido classificado como grau de investimento pelas agências internacionais de risco Standard & Poors e Fitch, entre os meses de abril e maio deste ano, ainda não tem total credibilidade no mercado externo, processo que está sendo ¿conquistado com um mínimo de disciplina, como o sistema de metas de inflação.¿

O economista argentino Guillermo Rozenwurcel, da Universidade de San Martin, concordou com Lia, da FGV. ¿O governo (argentino) tem de anunciar em algum momento alguma meta de inflação. Dizer alguma porcentagem em algum período de tempo. Quando isso vai ser feito, não tenho a resposta¿, afirmou.

Segundo ele, a diferença entre a Argentina e países como o Brasil e Chile é a ¿idéia de que a elite diz para onde vai a economia¿.

MERCOSUL

Houve consenso, durante o seminário, de que a crise econômica da Argentina traz obstáculos para a integração com o Brasil e o Mercosul, como já ocorreu em crises econômicas anteriores da Argentina. Nesse contexto, Rozenwurcel fez críticas à postura do Brasil. ¿O que parece para os países vizinhos é que o Brasil não age como líder regional. O Brasil tem de aceitar que, para liderar, deve levar em conta os interesses dos outros sócios. Negociar é assim, receber coisas e abrir mão de outras¿, disse.

Lia, da FGV, lembrou que ¿as assimetrias entre Brasil e Argentina não são novas¿. De acordo com ela, o Mercosul não é um tema fácil, ainda mais com a crise econômica da Argentina. Mesmo assim, a economista afirma que a recessão econômica argentina ¿não é algo que nos assusta¿.

Rozenwurcel, por sua vez, disse que, desde os anos 40, os argentinos estão atentos para os problemas da política econômica da Argentina, reconhecendo que ela tem sido politizada pelo atual governo da presidente Cristina Kirchner.