Título: Oriente Médio será foco de democrata
Autor: Sant¿Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2008, Internacional, p. A14

Obama quer lançar negociações com Irã, integrante do `eixo do mal¿, e Síria

Lourival Sant¿Anna

Se Barack Obama for eleito presidente, os EUA deverão dar uma guinada radical em sua política externa em geral e para o Oriente Médio em particular. Um eventual governo democrata vai lançar negociações com a Síria e o Irã - integrante do ¿eixo do mal¿ enunciado pelo presidente George W. Bush - e abraçar o multilateralismo, valorizando instituições como a ONU e a Otan. Foi o que disseram ontem assessores de Obama num debate sobre a região.

¿A Síria é líder no mundo árabe¿, salientou Gregory Craig, assessor de segurança nacional da campanha de Obama. ¿Os sírios deveriam estar aqui, e não lá. Devemos mostrar a eles que devem mudar de atitude.¿ O senador John Kerry, candidato democrata a presidente em 2004 e membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado há 24 anos, disse que se reuniu duas vezes com o presidente da Síria, Bashar Assad, nos últimos dois anos, ¿contra a vontade do atual governo¿, e os sírios, sob influência da Turquia, mostram-se interessados em negociar com Israel. ¿Os EUA estão estranhamente ausentes disso.¿

A rejeição por princípio do governo Bush de qualquer aproximação com a Síria foi ilustrada por um testemunho do ex-ministro alemão das Relações Exteriores Joschka Fischer, que também participou do debate, promovido pela New American Foundation. Fischer contou que esteve com o então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon dias antes do derrame que o deixou em coma, em janeiro de 2006, e perguntou-lhe por que não negociava com a Síria. ¿Não estou autorizado¿, disse Sharon sorrindo.

Os democratas acham que a estabilidade do Iraque - no contexto da retirada das forças americanas, prometida por Obama- pode ser um interesse comum como ponto de partida de negociações com a Síria e o Irã. ¿Se começássemos com a questão nuclear, seria um desastre¿, disse Craig. ¿Os iranianos se interessariam em maximizar a estabilidade do Iraque nessa transição (iniciada com a eventual retirada americana).¿

O ex-deputado Mel Levine, assessor de Obama para Oriente Médio, descartou a possibilidade de negociações com o grupo islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza. ¿Há uma guerra entre o Fatah e o Hamas, e estamos do lado do Fatah¿, disse, referindo-se à facção moderada que governa a Cisjordânia.

Levine garantiu que Obama, com seu ¿comprometimento com a segurança de Israel¿, conseguiu superar as resistências dos israelenses em relação a ele causadas por suas declarações de que ¿os palestinos nunca sofreram tanto¿ e em favor de negociações com o Irã. Levine recomenda que o próximo presidente nomeie imediatamente um enviado especial para mediar o conflito árabe-israelense e promova uma reunião de países doadores para levantar ¿bilhões de dólares¿ para melhorar a situação dos palestinos. A solução final, ressaltou ele, é a criação de um Estado palestino.