Título: 9% dos alunos de escolas públicas de SP são fumantes
Autor: Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2008, Vida, p. A18

Estudo da Sociedade de Cardiologia aponta que 48% dos jovens experimentaram tabaco entre os 13 e 15 anos

Alexandre Gonçalves

Cerca de 9% dos estudantes de 5ª a 8ª série e do ensino médio das escolas públicas de São Paulo são fumantes. A estimativa foi feita pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em parceria com a Secretaria de Estado da Educação. Foram entrevistados 2.829 jovens na cidade.

Rui Ramos, diretor de Promoção à Saúde Cardiovascular da SBC, responsável pela pesquisa, lembra que 90% dos fumantes descobrem o vício antes dos 18 anos. ¿É prioritário, portanto, estar atento para como o prevalência do consumo de tabaco evolui nas pessoas mais jovens¿, afirma Ramos.

Segundo a pesquisa da SBC, cerca de 48% dos jovens experimentam tabaco entre os 13 e 15 anos. Natali Gragnano começou a fumar com 14 anos por influência dos amigos. Hoje, está com 18. Ela também respondeu ao questionário da SBC.

Natali acredita que o exemplo do pai, também fumante, não influenciou sua escolha. Ele sofreu um aneurisma - agravado pelo vício - três anos antes de ela fumar seu primeiro cigarro. ¿Se tivesse exercido alguma influência, seria para não fumar¿, afirma Natali. Mas os dados revelam que cerca de 75% dos jovens fumantes foram precedidos no vício por pais ou irmãos. Entre os jovens não fumantes, o porcentual cai para menos da metade: 30%.

O estudante Lucas Rodriguez Pires, de 20 anos, fumou seu primeiro cigarro aos 16. Mas conta que comprava maços para a mãe desde criança. ¿Nunca perguntaram a minha idade ou disseram que não iriam me vender¿, afirma. Ele costuma fumar no pátio da sua escola, apesar da proibição de fumar em prédios públicos no Estado de São Paulo.

A pesquisa também apontou quais são as formas mais populares de consumo de tabaco utilizadas pelos jovens. Aproximadamente 20% já experimentaram cigarro convencional.

Em segundo lugar, para surpresa dos especialistas, veio o narguilé, espécie de cachimbo acoplado a um recipiente com água, muito difundido no Sudeste Asiático e no Oriente: cerca de 16% dos jovens experimentaram (mais informações nesta pág.).

Pires conta que muitos dos seus amigos compraram narguilés. ¿Eles levam até para a escola, para fumar durante o intervalo das aulas no pátio¿, afirma o estudante.

Única droga ilícita incluída na pesquisa, a maconha está em terceiro lugar: 7% dos entrevistados admitem ter experimentado pelo menos uma vez.

A Secretaria de Estado da Educação inclui o combate ao tabagismo no programa Prevenção Também se Ensina, que trata também de ações contra Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e gravidez na adolescência. No mês de maio, a secretaria organizou a campanha Juventude Livre do Cigarro, para tentar conscientizar os alunos sobre os males do tabaco.

TENDÊNCIA

É difícil comparar os dados do estudo da SBC com os de pesquisas anteriores, pois não há uniformidade de método. Mas Ramos aponta uma tendência de queda. Em 2004, foi publicado o 5º Levantamento Nacional sobre o consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Na época, 10,8% dos alunos paulistas afirmaram ter consumido tabaco no mês anterior à pesquisa. Participaram do estudo 9.631 alunos.

Segundo Sérgio Ricardo Santos, coordenador do PrevFumo, ambulatório para quem deseja ajuda especializada para abandonar o vício, ligado à Unifesp, as estimativas mais recentes afirmam que entre 17% e 20% da população brasileira fuma. Em 1989, era 35%. Ele também confirma a tendência de queda entre jovens, mas acredita que ela é menor do que em outras faixas etárias. ¿Apesar do aumento na conscientização, o primeiro contato com o cigarro costuma acontecer cada vez mais cedo¿, justifica Santos.