Título: Caso foi marcado por informações confusas
Autor: Iwasso, Simone; Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2008, Vida, p. A19

O caso da menina Marcela de Jesus Galante Ferreira, agora no centro do debate do STF, é marcado por informações confusas, que levaram à crença de que uma criança sem cérebro pode sobreviver por mais de um ano -e a argumentos de que não se pode permitir a interrupção da gravidez nesses casos.

A própria médica da menina, Márcia Beani, após divulgar o diagnóstico de anencefalia, corrigiu a informação em novembro, em entrevista ao Estado, depois de Marcela completar um ano: questionada sobre os exames, afirmou que não se tratava de uma ¿anencefalia clássica¿ e que a ressonância indicava a presença de mesencéfalo, estrutura intermediária do cérebro.

Dias depois, especialistas foram apresentados como avalistas da informação de que Marcela poderia ter anencefalia. Ontem a reportagem ouviu quatro deles: Thomaz Gollop afirma que na época não se aprofundou no diagnóstico, já que o prognóstico era de que a menina morreria. Junto com José Luiz Gherpelli, que afirmou ter afirmado na época que ela não era anencéfala, ele conclui que a menina tinha merocrania. Jorge Andalaft diz que suas palavras foram colocadas de maneira equivocada e que defendeu que o bebê fosse examinado. Outro médico reconhece que não analisou os exames. ¿Não tive acesso a todos os exames¿, disse João Pereira Leite, professor de neurologia da USP, que prefere não se manifestar no debate.