Título: EUA preocupam conselho de Lula
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2008, Economia, p. B8
Queda do preço das commodities alivia pressão na inflação e o problema agora é a desaceleração global
Ribamar Oliveira, BRASÍLIA
A pressão sobre os preços internacionais do petróleo e das commodities agrícolas está cedendo e a preocupação agora passou a ser a desaceleração das economias americana, européia e japonesa. Dependendo da intensidade, o crescimento da economia mundial poderá ser afetado, mesmo que a China mantenha o ritmo de atividade. Esse foi, em síntese, o diagnóstico apresentado ontem pelo conselho de economistas de fora do governo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião no Palácio do Planalto.
Durante o encontro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, fizeram exposições sobre a situação econômica do País e disseram que o crescimento, no segundo trimestre deste ano, ainda ficou acima de 5%. A massa salarial, segundo informaram, está aumentando 6% em termos reais. Na avaliação dos dois, o ritmo da atividade ¿segue forte¿. Em meados de setembro, o IBGE deverá divulgar os números oficiais sobre a economia no segundo trimestre de 2008.
Mantega informou que houve um forte aumento dos investimentos no País no primeiro semestre. Os investimentos públicos foram 50% maiores do que em igual período do ano passado. Os dados serão divulgados na próxima reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
A redução da pressão dos preços das commodities e do petróleo refletiu-se em todos os índices brasileiros de inflação, observaram os participantes da reunião. Guido Mantega disse que a inflação interna está caindo e que o Brasil será um dos poucos países do mundo a se manter, este ano, dentro do intervalo de tolerância da meta, que é de 2,5%, a 6,5%.
Nesse momento, o presidente Lula tomou a palavra e ironizou os oposicionistas. ¿Tinha muita gente torcendo para a volta da inflação ou para que o País parasse de crescer¿, disse. ¿Eles quebraram a cara.¿
O economista Delfim Netto criou um certo embaraço ao presidente do Banco Central, ao afirmar que o atual processo inflacionário não resultou de excesso de demanda da economia, como defende Meirelles, mas das pressões internacionais de preços. Segundo ele, bastou que os preços do petróleo e das commodities cedessem para que a inflação brasileira também perdesse fôlego.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que se o governo avaliar que são necessárias novas medidas contra a inflação, é preferível uma elevação do superávit primário a um aumento da taxa de juro. Para ele, antes aumentar o superávit primário de forma preventiva do que subi-lo depois para pagar o custo da elevação dos juros sobre a dívida pública.
Os outros participantes da reunião foram o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e o diretor do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior, que fez a avaliação sobre a conjuntura econômica internacional.
O cenário apresentado por Nogueira Batista foi o de que a crise financeira nos Estados Unidos pode se aprofundar. Segundo ele, a situação dependerá, em grande medida, de como os preços dos imóveis vão evoluir daqui para frente. Esses preços já caíram 16% e, se a queda chegar a 40%, a previsão é de que os imóveis ficarão mais baratos que os financiamentos e poderão ser devolvidos.
A situação dependerá também, observou durante a reunião, das respostas que o novo governo americano dará. Nogueira Batista não descartou a hipótese de que a economia americana entre em recessão.