Título: 'Inflação está acima do desejável'
Autor: Monteiro, Tânia; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2008, Economia, p. B11

Mantega comemorou deflação de IGP-M, mas recuou no otimismo

Tânia Monteiro e Fabio Graner, BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou ontem a deflação de 0,32% no Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) em agosto, mas recuou no otimismo dos últimos dias e reconheceu que ainda é necessária uma postura de cautela em relação ao ritmo de inflação. ¿(O resultado do IGP-M) significa que há uma desaceleração da inflação, mas ainda estamos acima dos patamares desejáveis¿, afirmou o ministro, que participou da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) no Palácio do Planalto. ¿É preciso que haja (mais) um recuo¿, acrescentou Mantega.

O IGP-M, divulgado na quarta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), teve a primeira deflação desde abril de 2006, depois de uma alta de 1,76% em julho e de ter atingido o pico de 1,98% em junho.

O ministro defendeu a continuidade dos instrumentos de combate à inflação, como as políticas fiscal (de contenção de despesas por meio de um maior superávit primário) e monetária, posta em prática pelo Banco Central (BC) com a alta na taxa de juros básica da economia, a Selic. ¿Sem dúvida os instrumentos precisam ser mantidos, como um superávit primário maior e os juros do Banco Central¿, disse o ministro.

A postura de maior cautela de Mantega não foi por acaso. Apesar de os índices mostrarem uma desaceleração na alta de preços, o ministro recebeu informações de sua assessoria de que a inflação ainda deve subir entre setembro e novembro, só recuando efetivamente a partir de dezembro.

A elevação dos índices nos próximos três meses, segundo técnicos, acontecerá até mesmo por um efeito estatístico: no período de setembro a novembro do ano passado foram registradas taxas relativamente baixas de inflação. Em setembro de 2007, por exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,18%. Ou seja, para que a taxa acumulada em 12 meses não suba no mês que vem, o IPCA deveria ter uma taxa de no máximo 0,18%.

APERTO

O Ministério da Fazenda reconhece a necessidade de um aperto monetário neste ano, mas mantém o questionamento em relação à magnitude do ajuste que o Banco Central vai promover nas três reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) programadas para este ano. A próxima será nos dias 9 e 10 de setembro.

A Fazenda considera que a escalada dos preços foi motivada, principalmente, pela alta nas cotações do petróleo e dos alimentos, enquanto o Banco Central foca a calibragem das taxas de juros não apenas na inflação, mas também na elevação do crédito e dos altos níveis de demanda interna.

Com os números mais recentes da inflação, o Banco Central volta à berlinda das pressões para validar o cenário que justifique uma nova alta da taxa Selic, atualmente de 13% ao ano. Nesta semana, na reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com economistas, a posição adotada pelo Banco Central foi colocada em xeque.

A diretoria da instituição, no entanto, tem entendimento de que a queda nos preços das commodities é circunstancial e que muitas dúvidas ainda pairam sobre os desdobramentos da crise nos Estados Unidos e o nível de desaceleração das economias mundiais.