Título: BC muda contas e lucra R$ 3,2 bi no 1º semestre
Autor: Veríssimo, Renata; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2008, Economia, p. B13

Perdas com variação cambial foram de R$ 44,8 bi; nova contabilidade iguala balanço do BC ao de outros países

Renata Veríssimo e Fernando Nakagawa, BRASÍLIA

O Banco Central (BC) teve perdas de R$ 44,8 bilhões no primeiro semestre, em decorrência da variação cambial, que afetou o custo de manutenção das reservas internacionais e provocou prejuízos com as chamadas operações de swap cambial reverso - que trocam remuneração dos juros pelo câmbio. Apesar disso, o balanço apresentado ontem pelo diretor de Administração do BC, Anthero Meirelles, mostra que a instituição teve lucro de R$ 3,2 bilhões no período.

O lucro foi obtido com mudanças na contabilidade, feitas com o objetivo, segundo o diretor, de tornar o balanço do BC brasileiro semelhante ao de outros países. O balanço da instituição passou a incluir apenas receitas e despesas com juros incidentes sobre as operações em reais. Todas as transações que sofrem o efeito do câmbio passaram a ser demonstradas à parte. Sem as modificações, o resultado seria um prejuízo de R$ 41,6 bilhões no primeiro semestre de 2008.

O balanço foi aprovado ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O BC afirma que a mudança traz ¿maior transparência ao resultado do banco, das reservas e dos swaps cambiais reversos¿. As operações de swap são feitas para tentar conter a volatilidade excessiva do mercado de câmbio.

¿O resultado do BC era igual à variação cambial. Isso não fazia sentido para analistas internacionais e obscurecia o resultado do BC na sua principal função de executar a política monetária no Brasil¿, disse o diretor. Segundo ele, o BC aplicou normas internacionais de contabilidade emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB).

Em outros países, ativos e passivos cambiais do governo ficam em um único órgão. No Brasil, o BC cuida dos ativos (principalmente reservas internacionais) e os passivos cambiais ficam no Tesouro Nacional, por meio de títulos da dívida externa.

Até junho, a manutenção das reservas custou R$ 39,6 bilhões. A perda ocorreu porque, para comprar os dólares que compõem as reservas, o Brasil precisa precisa emitir títulos em reais que pagam juros maiores que os ganhos com a aplicação das reservas. Os contratos de swap geraram despesa de R$ 5,2 bilhões. No primeiro semestre de 2007, o custo de carregamento das reservas e a perda com swap foi de R$ 33,2 bilhões e o resultado do BC, positivo em R$ 2,7 bilhões.

Com a mudança, o governo editou em junho a Medida Provisória 435, que vale para o exercício de 2008. Ela estabeleceu que BC e Tesouro Nacional terão de fazer um encontro de contas. Pelo resultado do primeiro semestre, o Tesouro terá de repassar ao BC títulos da dívida pública no valor de R$ 41,6 bilhões para cobrir o prejuízo da instituição. O BC transferirá ao Tesouro os R$ 3,2 bilhões obtidos como lucro.