Título: Eleitor avalia continuidade dos governos
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2008, Nacional, p. A4
O cenário eleitoral já aponta referências mais definidas depois de uma quinzena de propagandas eleitorais, as dos candidatos e a do Tribunal Eleitoral - aquela que lembra ao eleitor, por meio de metáforas como abelha na orelha ou pés incontroláveis, que quatro anos pesam muito na vida de cada um se o eleito não for bem escolhido.
Fica claro que em Belo Horizonte e Recife o eleitor está decidindo pela continuidade de administrações muito bem avaliadas. Os candidatos que melhor representam esta continuidade já se colocam em uma provável vitória no primeiro turno.
Márcio Lacerda, empresário, com grande patrimônio declarado, candidato pela primeira vez, filiado há um ano ao PSB, captou os votos dos que esperaram o horário eleitoral para se decidir. Quadruplicou seu eleitorado e chega agora a 40% (Ibope) de intenção de voto estimulado. Poucos votos tirou dos adversários que, juntos, têm 29%.
É fato que o desconhecido empresário - apesar de carreira pública de anos - teve forte apoio político de aliados poderosos. O eleitor, no entanto, também entendeu, por intermédio do horário eleitoral, que Lacerda será a continuidade do atual prefeito Pimentel, aprovado por 79% do eleitorado. O eleitor nem está passando um cheque em branco nem escolhendo apenas por indução de forças políticas. Esperou para ver o que o candidato tinha a dizer e, nestes 15 dias, tomou decisões. No voto mais consolidado, com resposta espontânea, Lacerda tem apoio de 31%, contra 20% de todos os adversários juntos.
Da mesma forma em Recife. O petista João da Costa agrega agora 47% dos votos, contra 37% de todos os adversários, colocando no horizonte a continuidade da administração do atual prefeito João Paulo (PT), com 65% de aprovação em todos os segmentos do eleitorado. Valeu também aqui o apoio dos correligionários, prefeito e presidente, mas a decisão só veio depois de 15 de agosto. Quem disse que o eleitorado hoje elege até poste?
A lógica no Rio de Janeiro vai para a oposição. O atual prefeito, César Maia, não passa de 28% de aprovação e sua candidata, Solange Amaral, tem apenas 5%. A oposição está dividida, mas nesta quinzena Eduardo Paes do PMDB levou a melhor na tela e na campanha. Com forte apoio do governador Cabral (37% de aprovação), chega a empatar com Crivella até na simulação do segundo turno. Na percepção do carioca, este continua, no entanto, o grande favorito - 41% dos eleitores acham que ele vai ser o próximo prefeito.
Em São Paulo, o desempenho e o tempo do horário eleitoral colocam Kassab na perspectiva de disputar com Marta Suplicy o segundo turno. Três fatores modificaram o cenário paulistano: 1) a propaganda eleitoral voltada fortemente para o tema da saúde favoreceu o atual prefeito, que teve o que mostrar com mais de uma centena de ambulatórios criados na cidade e dois hospitais terminados.
A argumentação comparativa de Marta não foi perfeitamente convincente e o PAS de Maluf, revivido na TV, ainda tem alguma ressonância no eleitorado de baixa renda (ela perdeu 10 pontos neste segmento); 2) Kassab foi o único candidato a crescer nesta quinzena (mais 4 pontos no Ibope, subindo para 12%) e cresceu também sua avaliação como prefeito.
No entanto, o crescimento mais espetacular foi na projeção de segundo turno contra a petista. A diferença caiu no Datafolha de 20 para 8 pontos; na semana anterior a contagem estava 55% a 35% e, na pesquisa publicada ontem, passou para 49% a 41%; 3) a baixa capacidade de reação da campanha tucana, na rua e na tela, imobiliza Alckmin no patamar de 24% de voto estimulado no Datafolha, mas o coloca em curva descendente, pela terceira medida consecutiva no Ibope: 31%, 26% e 22%.
A lógica da comparação de administrações está prevalecendo nas várias cidades pesquisadas. Em São Paulo, o apoio de Lula a Marta pode não ser tão decisivo como parecia no primeiro dia de propaganda de TV.