Título: No Rio, as visões e as idéias são semelhantes
Autor: Rodrigues, Alexandre ; Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2008, Nacional, p. A10
Bilhete único, reforma do porto, guarda municipal e saúde: apesar da militância ideológica, eles divergem pouco nas sabatinas do `Estado¿
Alexandre Rodrigues e Luciana Nunes Leal, RIO
Uma cidade com corredores de ônibus articulados que ligam a periferia ao centro, onde as ruas são cortadas pelos trilhos de modernos bondes. Em alternativa às favelas, 100 mil casas populares. As crianças que vão mal na escola recebem aulas de reforço, mas não mudam de série se falharem. Quando ficam doentes, as mães marcam consultas em até oito dias em postos de saúde perto de casa, que funcionam até tarde. Nos fins de semana, as famílias podem passear na área do porto revitalizada pelo lazer e pela gastronomia. A segurança da região é feita com o apoio da Guarda Municipal, mesmo quando a noite cai.
Essa é a visão do Rio traçada em linhas gerais pelos sete candidatos à prefeitura que passaram pelas sabatinas promovidas pelo Grupo Estado na capital fluminense, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entre os dias 21 e 29. Apesar das divergências ideológicas e políticas, e da impossibilidade de se revezarem no posto, todos apresentaram soluções muito parecidas. Movidos por pesquisas qualitativas, parecem concordar em relação às prioridades. Eles enumeraram alternativas para problemas bem conhecidos, mas não explicaram por que o aparente consenso não resultou na concretização das soluções até agora.
Com exceções, as idéias são projetos antigos, que jamais saíram do papel. Um exemplo é a revitalização do porto, no discurso de todos. ¿A Companhia Docas é proprietária dos terrenos e o governo federal nunca se entendeu sobre isso¿, diz a candidata do DEM, Solange Amaral, ao explicar por que seu padrinho político, o prefeito Cesar Maia, não conseguiu tirar a região da decadência em três mandatos.
Outro entusiasta da revitalização da zona portuária, Fernando Gabeira (PV), acena com um projeto de R$ 600 milhões, em parceria com a iniciativa privada e financiamento do BNDES e do Banco Mundial. Alessandro Molon (PT) quer um ¿retroporto¿, com centro de convenções e complexo hoteleiro e gastronômico como o de Puerto Madero, em Buenos Aires.
Outro aparente consenso está no déficit habitacional de 100 mil moradias e nas promessas de equacioná-lo em quatro anos. A exceção é Jandira Feghali (PC do B), que promete entregar 80 mil casas por ano, 320 mil até o fim do governo. Ela calcula um valor ¿entre R$ 40 mil e R$ 100 mil por casa¿ e se arrisca a dizer que, recorrendo a fundos e financiamentos, o custo pode chegar a zero para a prefeitura.
BILHETE ÚNICO
A experiência do bilhete único em São Paulo foi citada por todos como exemplo a ser adotado no Rio. ¿Precisa de articulação com o Estado. Sem ele, não se faz bilhete único¿, adverte Solange, que, apesar do embate político, promete procurar o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se eleita. Afilhado político do governador, Eduardo Paes (PMDB) também promete bilhete único, mas não explica por que Cabral ainda não o pôs em prática, como prometera na campanha de 2006.
Na saúde, todos querem ampliar a cobertura do Programa Saúde da Família, que não chega a 10% no Rio, menos Solange, que tem a dura missão de defender a posição do atual prefeito contra a expansão do programa. Marcelo Crivella (PRB) fala em mais mil equipes, o que custaria R$ 5 milhões. Jandira pensa em 400 equipes, já no início da gestão.
À exceção de Solange, os seis concorrentes sabatinados centram críticas em duas marcas da administração de Cesar Maia: o sistema de ciclos nas escolas municipais, que chamam de ¿aprovação automática¿, e o complexo Cidade da Música, que o prefeito ergue na Barra a quase R$ 500 milhões.