Título: Souza vai apurar se PF favoreceu dirigente petista
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2008, Nacional, p. A19

Agentes alegaram dificuldades técnicas para não grampear o ramal de Romênio Pereira na sede do PT

Vannildo Mendes

BRASILIA

A Procuradoria-Geral da República vai avaliar se a Polícia Federal agiu para favorecer o secretário de assuntos institucionais do PT, Romênio Pereira, suspeito de envolvimento com integrantes da quadrilha especializada em fraudar obras públicas. O grupo foi desarticulado pela Operação João-de-Barro.

A PF teria alegado dificuldades técnicas para não interceptar, mesmo com autorização judicial, o ramal utilizado pelo petista na sede do PT. Se tiver havido favorecimento a Romênio, pode ser aberto inquérito específico para um caso classificado de prevaricação - quando a autoridade deixa de realizar ato de ofício de sua competência para favorecimento de terceiros.

O PSDB vai fazer uma representação junto à Procuradoria, pedindo a análise do comportamento da PF. Por meio da assessoria, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, informou que ofereceu à denúncia contra os envolvidos nas fraudes descobertas pela Operação João-de-Barro com base nos elementos apresentados pela PF. Segundo sua assessoria, Souza em nenhum momento viu razão para duvidar da boa-fé da instituição. Ele disse que vai analisar a representação do PSDB, tão logo ela seja apresentada, para verificar se há algum dado concreto ou indício de irregularidade na conduta da PF que mereça ser investigado.

Procurador só aguarda chegada de representação do PSDB

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Requerimento pedindo a investigação foi entregue na sexta-feira pelo deputado

Gustavo Fruet (PSDB-PR) à cúpula do partido. Para o deputado, a PF teria sido facciosa ao não cumprir a ordem judicial, um fato a seu ver "muito grave".

A corporação alegou problemas técnicos para não fazer o grampo, mas negou que tenha se curvado a pressão política de qualquer tipo. "PF investiga fatos e não pessoas", alegou a entidade em nota oficial. Explica ainda que as investigações da Operação João-de-Barro alcançaram indistintamente prefeituras administradas por diferentes partidos, inclusive da base do governo.

Isso, conforme a nota, "demonstra a independência" da atuação da PF, que "tem seu trabalho pautado unicamente em preceitos legais e constitucionais" .

LICENÇA

Romênio nega envolvimento com o esquema. Ele tirou licença de 60 dias do cargo na Executiva Nacional do PT para se defender.

Antes de ser deflagrada a Operação João-de-Barro, em 20 de junho, na fase preliminar de investigação, o Ministério Público e a PF tinham uma lista com 240 prefeituras suspeitas de envolvimento nas fraudes no Distrito Federal e em sete Estados (SP, RJ, ES, RN, MG, GO e TO). Mas os procuradores e delegados preferiram concentrar a apuração nos municípios com "indícios mais fortes" de irregularidades .