Título: Cidade pequena tem resultado ruim
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2008, Vida, p. A28

Municípios entre 20 mil e 100 mil habitantes investem melhor em educação; mais ricos têm mau desempenho

Renata Cafardo

Apesar de resultados estatisticamente próximos, cidades com mais gente e renda intermediária têm mais eficiência dos gastos com educação, segundo o estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV). A pesquisa dividiu os municípios do Estado em quatro grupos por tamanho da população e por PIB per capita. Os piores resultados foram das cidades com menos de 5 mil habitantes e das de renda média de R$ 15.258, a mais alta.

¿Isso mostra que a riqueza do município não é tão relevante¿, diz uma das coordenadoras do estudo, Fabiana Rocha. O melhor desempenho foi das cidades com PIB per capita de R$ 5.338. São Paulo, que está no grupo de cidades com mais alta renda do Estado e maior população, ficou em 341º lugar no ranking de municípios mais eficientes. Além da ordenação por regiões administrativas, o estudo verificou a eficiência nos gastos com educação e listou todas as 404 cidades analisadas.

Apesar da baixa eficiência se comparada a outros municípios, o Ideb da capital em 2005 foi 4,1, acima da média nacional. São Paulo tem a maior rede municipal do País, com 1,1 milhão de alunos. Procurado pela reportagem durante duas semanas, o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider, não respondeu aos pedidos de entrevista. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) tenta a reeleição.

TOPS

Quando é analisado o desempenho individual de cada cidade, das 10 mais eficientes, 5 estavam também no ranking dos maiores Idebs do Estado em 2005 - Barra do Chapéu, São João das Duas Pontes, Lavínia, Votuporanga e Orindiúva.

Com um orçamento para educação de R$ 1 milhão, 400 alunos e, no máximo, 15 professores, São João das Duas Pontes está entre os nove municípios com índice zero de desperdício dos recursos. ¿A gente fez as coisas de maneira natural, melhoramos a merenda, demos transporte para os alunos e cursos para os professores¿, diz a prefeita Roseli Lóis (PMDB). A cidade, que fica na região de São José do Rio Preto, tem 2.500 habitantes e está a 600 quilômetros da capital.

O pior município em eficiência é Queiroz, no centro-oeste do Estado, que desperdiça, segundo o estudo, mais da metade de seus recursos. Segundo a prefeitura, ao se deparar com resultados ruins de 2005 nas avaliações do Ministério da Educação, a cidade elaborou um plano de carreira para professores e cursos de capacitação. A cidade teve Ideb de 3,2 em 2005. A meta traçada pelo governo federal para 2007 era de 3,3, mas Queiroz chegou a um Ideb de 3,5.

Em Paulistânia, na mesma região e também com baixa eficiência, a prefeitura garante que investiu na biblioteca municipal e passou a incentivar os alunos a ler jornais depois dos resultados ruins em 2005.

O prefeito de Holambra, Celso Capato (DEM), que registra 46,7% de desperdício, contestou o estudo da FGV e disse que o resultado não reflete a realidade da cidade hoje. ¿Quando recebemos o Ideb de 2005, fomos verificar onde estava o problema. Nós sempre investimos mais que os 25% do Orçamento do Município em educação¿, afirmou. Segundo ele, o município destinou R$ 3,4 milhões ao ensino naquele ano, passou a desenvolver programas de capacitação de alfabetizadores e abriu laboratórios de informática. Na 4ª série, o município deu um salto no Ideb entre 2005 e 2007, indo de 3,7 para 5,2. ¿Temos agora a consolidação do sistema de avaliação. Depois dos primeiros resultados, todos os municípios passaram a se preparar para as provas de 2007 e, por isso, melhoraram seus Idebs¿, diz o presidente da Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, César Callegari.

Ele e outros educadores se dizem surpresos pelo fato de as cidades menores terem mostrado a pior eficiência nos gastos porque acreditam que uma estrutura enxuta facilitaria a gestão. O melhor desempenho foi de cidades entre 20 mil e 100 mil habitantes. O estudo da FGV mostra também quais as região administrativas que têm mais municípios entre os 25% mais eficientes do Estado. A região de Barretos foi novamente a campeã, com 36% de suas cidades entre as melhores. Em segundo ficou a região central, que inclui Araraquara, São Carlos, Ibitinga e Santa Rita do Passa Quatro, entre outras.

COLABORARAM JAIR ACEITUNO e TATIANA FÁVARO