Título: Furacão causa êxodo de New Orleans
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2008, Internacional, p. A12

Três anos após tragédia do Katrina, aproximação da tormenta Gustav leva 1 milhão de pessoas a deixar a cidade

AP, NYT e Reuters, New Orleans

A um dia de o furacão Gustav chegar à costa dos Estados Unidos, os moradores de New Orleans pareciam determinados a não deixar que a história se repetisse. Ainda traumatizados com a devastação causada pelo furacão Katrina, há três anos, mais de 1 milhão de pessoas deixaram a região metropolitana durante o fim de semana. Ao meio-dia de ontem, New Orleans já tinha o aspecto de uma cidade fantasma.

Segundo previsão do Centro Nacional de Furacões dos EUA, a tormenta, que deixou Cuba com categoria 3, dificilmente atingiria o grau 4 antes de tocar a costa americana. Até a noite de ontem, a rota do Gustav ainda não permitia prever com precisão onde a tormenta atingiria o continente - ela pode entrar por qualquer ponto do sul do Texas até a divisa entre Alabama e Mississippi.

O prefeito de New Orleans, Ray Nagin, emitiu uma ordem obrigatória de retirada, alegando que o Gustav era mais perigoso do que o Katrina. ¿Essa é a mãe de todas as tempestades e não tenho certeza se já vimos algo igual a ela¿, afirmou Nagin. ¿Esse não é um teste e para os que estão pensando que podem sobreviver a essa tempestade, faço um alerta: esse será um dos maiores erros que você pode cometer em sua vida.¿ A estratégia de retirada adotada por Nagin parecia não dar chance ao azar: um barco de emergência estava estacionado de prontidão na frente da prefeitura caso o episódio das enchentes que inundaram 80% da cidade em 2005 venha a se repetir.

O prefeito afirmou que o número de moradores que saíram de suas casas ontem chegaria a 18 mil até as 15 horas (17 horas de Brasília) - horário que o último ônibus deixou a cidade. De acordo com a Agência Federal de Gerenciamento de Emergências (Fema), cerca de 1 milhão de pessoas haviam abandonado a região no sábado. Para ajudar na retirada, o governo estadual mudou as rotas das estradas para que todos os caminhos levassem para fora de New Orleans. Dezenas de milhares de carros seguiram para o norte, enquanto lojas, restaurantes e hotéis foram fechados. Entidades de proteção dos direitos dos animais disponibilizaram caixas de transporte para moradores levarem seus bichos de estimação nos ônibus e trens que deixavam a cidade. Além disso, um esquema de registro de animais foi montado para que cada bicho recebesse uma etiqueta para ser identificado caso fosse separado de seu dono.

Apesar da preocupação generalizada entre moradores da região, o professor de oceanografia Robert Twilley, da Universidade de Louisiana, afirmou que a área de maior risco não é New Orleans e sim um distrito próximo à costa centro-sul do Estado. ¿Essa é mais uma tempestade rural do que urbana¿, afirmou Twilley, que vem estudando a rota do furacão.

Antes de atingir Cuba, no sábado, o Gustav era um furacão de categoria 4 na escala de medição Saffir-Simpson. Após passar pela ilha, a tormenta reduziu sua intensidade para o grau 3. Até ontem, o Gustav deixou mais de 80 mortos e um rastro de destruição na República Dominicana, Haiti, Jamaica, Ilhas Cayman e Cuba.

O Katrina atingiu categoria 5 antes de chegar a New Orleans em 29 de agosto de 2005. As tempestades causadas pelo furacão foram tão intensas que romperam diques e inundaram grande parte da cidade. Mais de 1,5 mil pessoas morreram. Os gastos causados pela devastação foram estimados em US$ 80 bilhões, tornando o Katrina o desastre natural mais caro da história dos EUA.

Ontem, o presidente americano, George W. Bush, afirmou que ele e o vice-presidente Dick Cheney não participarão da Convenção Nacional Republicana - marcada para começar hoje em St. Paul, Minnesota - por causa do furacão (mais informações na página 13). O secretário de Segurança Interna dos EUA, Michael Chertoff, viajaria ontem para a região em risco.