Título: Ciclones tropicais se fortalecem, afirmam pesquisadores dos EUA
Autor: Gonçalves, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/09/2008, Vida &, p. A19
Temperatura maior na superfície do oceano aumenta velocidade do vento
CRISTINA AMORIM, COM EFE
Os mais fortes ciclones tropicais estão ganhando intensidade, principalmente na metade norte dos oceanos Atlântico e Índico, segundo pesquisa publicada hoje pela revista científica Nature. A elevação da temperatura na superfície dos oceanos aumenta as velocidades máximas do vento dos ciclones mais fortes e sua freqüência.
Pesquisadores da Universidade Estadual da Flórida liderados por James Elsner analisaram dados gerados por satélite nos últimos 26 anos. Com base nessas informações, descobriram que o aumento da temperatura da superfície do oceano em 1°C faz crescer em 31% a freqüência global dos ciclones mais violentos, de 13 para 17 fenômenos ao ano. Além disso, a cada 1°C de alta da temperatura das águas, cresce cerca de 4% a velocidade dos ventos dos ciclones. Quanto mais forte é o ciclone, mais evidente é a mudança na velocidade de seus ventos.
Com exceção do Oceano Pacífico Sul, todas as bacias oceânicas mostram isso, embora não no mesmo grau: os maiores aumentos ocorrem no Atlântico Norte e no norte do Índico.
Os cientistas concluem que esses resultados confirmam a teoria do motor térmico para explicar a intensidade dos ciclones: à medida que os mares se aquecem, o oceano tem mais energia que pode ser liberada na forma de ventos ciclônicos.
No entanto, ressalvam que há uma lacuna de dados e que o estudo não considera fatores como mudanças na região de origem e na duração dos ciclones. ¿Estávamos interessados em ver se encontraríamos um sinal de aquecimento global na atividade de ciclones tropicais e começamos com a teoria do motor térmico. Não há teoria que afirme que pode haver alterações em região de origem ou duração¿, disse Elsner ao Estado. Ele acrescentou que o ciclone Gustav se encaixa no padrão verificado por sua equipe.
Para Tom Knutson, do Laboratório de Dinâmica de Fluidos Geofísicos da NOAA (agência de pesquisas americana sobre oceanos e atmosfera), há uma ¿importante limitação¿ no trabalho de Elsner e sua equipe. ¿Os registros analisados são de um período muito curto, 26 anos, comparado à série de dados climáticos sobre temperatura de superfície, que cobrem mais de 140 anos. Isso torna muito difícil colocar as `tendências¿ identificadas no novo estudo em um contexto de longo prazo¿, disse ao Estado.