Título: Laudo atesta que maletas da Abin permitem fazer grampo
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2008, Nacional, p. A7

Mas elas precisam ser acopladas a dispositivos que agência pode não ter

Tânia Monteiro, BRASÍLIA

Laudo elaborado por engenheiros do Exército e entregue ao Palácio do Planalto comprova que dois dos equipamentos apresentados pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para ser periciados são capazes de fazer interceptações telefônicas, conforme informações obtidas pelo Estado. Para isso, no entanto, ressalva o laudo, tais equipamentos devem ser acoplados a outros.

Não há informação se a Abin possui esses equipamentos que precisam ser acoplados para que se proceda a escuta telefônica, já que coube à agência de inteligência escolher os equipamentos para que o Exército periciasse. Cerca de dez aparelhos foram analisados. Ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim, reafirmou que a Abin tem aparelhos capazes de fazer grampos.

A perícia atendeu a pedido do Gabinete de Segurança Institucional, que desejava eliminar suspeitas sobre seu trabalho. O resultado do laudo provocou tensão no Planalto. Um grupo de assessores propôs filtrar as conclusões dos militares para divulgar a versão de que a maleta da Abin era incapaz de fazer escutas, ignorando a ressalva do laudo que revela o potencial ofensivo do equipamento quando acoplado a outros aparelhos.

Não bastasse a divergência técnica, um componente político contribuiu para que o Palácio adiasse a divulgação oficial do laudo prevista para hoje. Se a nota do Planalto optasse por afirmar a idoneidade do equipamento da Abin, Jobim sairia desmoralizado. A solução foi optar pela divulgação do laudo por Jobim em seu depoimento na CPI dos Grampos, na próxima semana.

Alguns dos equipamentos analisados pelos militares constam da lista de compras feitas pelo Exército, em Washington, apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ministro da Defesa, durante reunião de coordenação política do governo. Jobim informou que, ao contrário do que se dizia, a Abin possuía, sim, equipamentos para fazer grampos e apresentou uma lista deles.

A divulgação dessa relação pelo ministro rendeu-lhe uma convocação para prestar esclarecimentos aos parlamentares. Ontem, em entrevista, ele disse que vai ao Congresso, mas não tem muito o que explicar. ¿Não conheço nada do assunto dos grampos. Minha participação nisso foi entregar ao presidente a relação dos aparelhos adquiridos pela Abin, comprados pela Comissão de Compras do Exército em Washington¿, declarou Jobim. ¿Vou ao Congresso dizer exatamente isso. Quem grampeou ou deixou de grampear, isso são hipóteses que não tenho de dizer.¿ O ministro contestou a acusação da Abin de que o Exército possui os mesmos equipamentos e, portanto, se a Abin pode fazer grampo, o Exército também pode. ¿Não estamos discutindo o Exército. O foco é a Abin.¿

O comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, também não quis polemizar. ¿Não sei que equipamentos a Abin tem¿, disse ele. Questionado se o Exército conta com equipamentos para fazer grampos, reagiu: ¿O Exército tem equipamentos para fazer varredura¿.