Título: Grito dos Excluídos será senha para MST retomar invasões
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2008, Nacional, p. A13
Ao anunciar ofensiva, dirigente acusa governo de paralisar reforma agrária
José Maria Tomazela
O Movimento dos Sem-Terra (MST) prepara uma nova onda de invasões para cobrar do governo Lula a reforma agrária que, segundo seus líderes, está parada. De acordo com o dirigente nacional João Paulo Rodrigues, de janeiro a julho deste ano, o governo assentou apenas 800 famílias em todo o País, ante uma meta anual do próprio governo de assentar 100 mil famílias.
¿Ainda que haja uma força-tarefa, nossas melhores avaliações indicam que o total de famílias assentadas no ano não vai chegar a 5 mil¿, disse Rodrigues. Ele acrescentou que, em razão do calendário eleitoral, o ano praticamente acabou. ¿Achamos que este ano, em famílias assentadas, o presidente Lula vai perder para os piores anos do governo Fernando Henrique Cardoso.¿
Durante o Grito dos Excluídos, que marcará o 7 de Setembro com marchas e manifestações de protesto, o MST vai denunciar essa situação. ¿Assim a sociedade vai saber o que está acontecendo quando fizermos as ocupações¿, disse. ¿É porque o programa da reforma agrária está paralisado.¿
ROMARIAS
O conjunto de mobilizações, que inclui a retomada das invasões, começa em setembro e se estende até outubro, segundo o dirigente. O MST participa do Grito dos Excluídos com as pastorais sociais da Igreja Católica, centrais de trabalhadores e outros movimentos populares, como o de moradores de rua. Este ano, o tema da 14ª edição será ¿Vida em primeiro lugar, direitos e participação popular¿. O ponto alto são as romarias - na capital, ocorrem de hoje a domingo, Dia da Independência.
A defesa do petróleo para o Brasil e contra a privatização da Petrobrás, uma das novas bandeiras do MST, foi incluída entre as propostas a serem levadas para as ruas. ¿Queremos que o governo explique para a opinião pública qual a real situação da Petrobrás, até que ponto ela continua uma estatal e o que já foi privatizado¿, ressaltou Rodrigues. ¿Não podemos aceitar que um governo progressista como o governo Lula tome a mesma decisão que o governo do Fernando Henrique Cardoso, que privatizou os nossos minérios para a Vale do Rio Doce.¿ Se o governo não abrir o debate sobre essas questões, o MST vai iniciar uma mobilização nacional, em conjunto com petroleiros e outros trabalhadores. Não estão descartadas ocupações de refinarias e terminais petrolíferos.
Segundo Rodrigues, o MST continua tendo como pauta principal a defesa da reforma agrária. ¿Mas antes de ser sem-terra somos cidadãos brasileiros e contra a privatização do nosso petróleo.¿ O coordenador das pastorais sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Pedro Luiz Stringhini, disse que o Grito terá atos em todo o Brasil, para lembrar que ¿a Pátria tem de ser construída a partir do respeito ao direito dos mais fracos e pobres¿.