Título: ONU critica taxas de juros da AL
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2008, Economia, p. B5
Para entidade, preocupação dos bancos centrais da região com inflação prejudica crescimento dos países
Fernando Nakagawa, BRASÍLIA
O braço para o desenvolvimento das Nações Unidas fez ontem uma forte crítica à política monetária adotada por países como o Brasil. Em relatório distribuído em todo o mundo, a entidade afirma que as taxas de juro cobradas na América Latina são ¿consideravelmente elevadas¿ e que os bancos centrais da região ¿são exclusivamente focados no controle da inflação¿, comportamento que prejudica o crescimento econômico dos países. No documento, as projeções de crescimento da economia em 2008 mostram desaceleração, inclusive nos países emergentes.
No estudo, economistas da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) afirmam que os juros dos países latino-americanos provocam baixas taxas de investimento. Isso fez com que a região crescesse em ritmo menor que o observado em outros locais nos últimos 20 anos.
Em 1998, por exemplo, o juro real girava em torno de 20% na América Latina. Naquele ano, a economia da região cresceu perto de 2,5%. Na Ásia, o juro estava em torno de 5% e a economia avançou quase 10% no mesmo período.
O texto não cita o aumento dos juros iniciado em abril pelo Banco Central (BC) do Brasil. Mas a projeção para o crescimento da economia nacional já embute o aperto monetário. Para a entidade, o País deve crescer 4,8% em 2008, abaixo dos 5,4% de 2007.
Em contraponto à estratégia dos países latino-americanos, a Unctad elogia a Ásia, onde são cobrados ¿juros baixos e há intervenção do governo nos mercados financeiros¿. Para a entidade, essa ação gera forte crescimento da economia.
SUGESTÕES
Para tentar reverter a situação no Brasil e nos vizinhos, a Unctad sugere que esses países adotem uma ¿política econômica coordenada¿ de redução dos juros para dificultar as chamadas operações de arbitragem, nas quais especuladores se aproveitam da diferença entre as taxas de juros domésticas e externas.
Polêmica, outra sugestão da Unctad é a criação de restrições para o tráfego internacional de capitais. A entidade cita como exemplo a necessidade de adoção de novas regras globais para as taxas de câmbio e políticas financeiras e, talvez, até de criação de uma espécie de Organização Mundial do Comércio (OMC) especialmente para a movimentação financeira.
No documento, a entidade prevê tempos ¿sombrios¿ para a economia mundial, cenário que gera ¿riscos consideráveis¿ para países em desenvolvimento. Esse quadro negativo é provocado pela crise imobiliária iniciada no ano passado nos Estados Unidos e pela evolução dos preços das commodities, como minério, petróleo e grãos.
Para a Unctad, os países emergentes devem crescer 6,4% em 2008, ritmo inferior aos 7,3% do ano passado. Mesmo assim, a expansão esperada para esse grupo é quatro vezes maior que a prevista para os países ricos, que devem ter crescimento de 1,6% no ano. No documento, a Unctad afirma que a economia global deve crescer 2,9% em 2008, taxa inferior aos 3,8% de 2007.
NÚMEROS
4,8% é a previsão da Unctad para o crescimento do PIB brasileiro em 2008, ante 5,4% em 2007
6,4% é a estimativa para o crescimento dos países emergentes neste ano, em relação aos 7,3% do ano passado
1,6% é expansão projetada para os países ricos neste ano
2,9% é quanto deve crescer o PIB global em 2008, ante 3,8% em 2007, segundo previsão da Unctad