Título: Investigação liga executivos da Alstom a propina
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2008, Nacional, p. A13

Segundo Justiça suíça, pivô de esquema de corrupção, com ramificação até em São Paulo, é Bruno Kaelin

Jamil Chade, GENEBRA

Praticamente concluída, a investigação sobre o suposto pagamento de propinas pela Alstom indica que membros da direção da empresa estariam envolvidos em esquemas de corrupção em várias partes do mundo, inclusive São Paulo.

Essa é a principal suspeita do Ministério Público suíço que, há cerca de três semanas, prendeu de forma preventiva um ex-alto funcionário da empresa. O nome e a função do funcionário estavam sendo mantidos em sigilo. Mas, com o caso praticamente em seu estágio final, fontes na Justiça suíça revelaram ao Estado quem está sendo acusado de ser a peça central do esquema de corrupção e qual teria sido o mecanismo usado para realizar os pagamentos a funcionários públicos no exterior.

Todas as atenções estão voltadas para Bruno Kaelin, um suíço de origem alemã que, no dia 21 de agosto, foi preso no vilarejo suíço de Einsiedeln. A acusação é de que teria participado de ¿gestão desleal, corrupção e lavagem de dinheiro¿.

Sua prisão envolveu mais de 50 policiais e a Justiça suíça acredita que Kaelin, hoje aposentado, seja a chave para que se possa descobrir quem recebeu as propinas que teriam sido pagas pela Alstom para ganhar contratos milionários.

Em suas várias atividades dentro da companhia, Kaelin ocupou a função de garantir que os contratos entre a Alstom e as demais empresas e governos estivessem de acordo com os interesses da empresa francesa. Kaelin também ocupou um cargo no conselho de administração da empresa, entre 2000 e 2006, o que lhe dava amplos poderes e um contato constante com os principais executivas da Alstom.

Os suíços ainda contaram com a ajuda de investigadores franceses. Juntos puderam reconstituir o esquema que permitiria o pagamento de propinas para garantir contratos no exterior. O circuito de corrupção esteve ativo pelo menos desde 1995, segundo as investigações. Uma das suspeitas da Justiça suíça é de que cerca de US$ 20 milhões teriam passado por esse esquema apenas para o pagamento de propinas no Brasil e na Venezuela.

Um dos braços utilizados para fazer os pagamentos seria a Cegelec, que até 2001 esteve sob o comando da Alstom. Entre 1999 e 2001, o próprio Kaelin administrou a Cegelec. Hoje, a subsidiária não tem nenhuma relação formal com a Alstom.

¿Não podemos falar sobre o caso porque a Cegelec, hoje, não tem qualquer relação com a Alstom. Trata-se de uma empresa totalmente independente desde 2001¿, afirmou o diretor de Comunicações da empresa, Jean-Louis Erneux.

No Brasil, a Cegelec esteve envolvida em muitos projetos, entre os quais a manutenção da fábrica da Novartis em Taboão da Serra e a construção do túnel Ayrton Senna.