Título: Vai passar, avalia Mantega
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2008, Economia, p. B1
Para o ministro, bolsa reflete recuo das commodities
Lu Aiko Otta, Fabio Graner, Renata Veríssimo, Brasília
A forte queda da Bolsa de Valores de São Paulo é ¿um cenário passageiro e tem explicações claras¿, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na avaliação dele, a bolsa sofre mais intensamente os efeitos da queda dos preços internacionais das commodities porque nela são negociadas muitas ações de empresas que comercializam esses produtos.
Da mesma forma, continuou ele, a bolsa subiu muito quando as ações das empresas de commodities eram as mais valorizadas. ¿Tem de ver o movimento todo¿, disse. ¿Se subiu 100 e cai 40, o saldo ainda é positivo.¿
O movimento na bolsa também pode ser reflexo do processo de repatriação de capitais, observou o ministro. Investidores estrangeiros podem estar se desfazendo de ações para tapar buracos decorrentes de perdas em outros investimentos. Esse movimento estaria contribuindo também para a alta do dólar ante o real.
O refluxo das commodities é passageiro, disse Mantega, porque houve, de fato, um aumento da demanda mundial. Independentemente das oscilações mais recentes, a tendência é que os preços continuem ¿mais elevados que no passado¿.
A mesma avaliação fez o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero. ¿Essa queda não tem a ver com a economia brasileira¿, disse, ao explicar que se trata de ajustes nas carteiras dos investidores estrangeiros. Para ele, pelo fato de a economia brasileira estar crescendo apoiada no mercado interno, as conseqüências da queda das commodities não devem ser grandes.
A retração na bolsa foi acompanhada pela elevação do dólar ante o real. Um dia antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic, o ministro avaliou que a alta do dólar ¿não deve afetar a inflação¿, pois deve ser compensada pela queda das commodities.
Segundo o ministro - que participou ontem do seminário `Desenvolvimento econômico: crescimento com distribuição de renda¿ -, a valorização do dólar é mundial. Indagado se o dólar pode ir além de R$ 1,80, Mantega disse que não dá para prever, mas a cotação poderá continuar subindo. ¿O dólar responde a uma situação de mercado¿, disse.
Para ele, a tendência de valorização do real chegou ao limite. ¿De certa forma, é bom porque não vai mais atrapalhar o setor exportador brasileiro¿, disse. A valorização do dólar deve permitir ao Brasil exportar mais produtos manufaturados.
Para Mantega, o Brasil é forte nesse segmento e interessa mais vender mais carros, aviões, eletroeletrônicos, bens de capital e caminhões. ¿Essa nova tendência do câmbio é altamente favorável para melhorarmos as contas externas. Eu espero aumentar as exportações de manufaturados, que é o que queríamos fazer.¿