Título: Félix rejeita hipótese de ação institucional da agência
Autor: Rosa, Vera; Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2008, Nacional, p. A4

Em depoimento ontem à CPI dos Grampos, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, disse que considera ¿baixo o grau de probabilidade¿ de o grampo telefônico que captou a conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ter sido feito por um funcionário da Agência Nacional de Inteligência (Abin).

¿Não aceitamos a hipótese de a Abin ter feito institucionalmente a escuta. Pode até ser alguém do corpo da agência. Mas considero baixo esse grau de probabilidade, porque os chefes se conhecem e as pessoas trabalham lá juntas há anos. Fica mais difícil alguém romper essa confiança¿, afirmou o general. ¿Agora, a Abin como instituição é uma coisa. Servidores da Abin são seres humanos com erros e acertos.¿

O general negou-se a comentar outras hipóteses para o grampo com o argumento de que elas foram discutidas em reuniões distintas e em caráter sigiloso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros do Supremo e parlamentares.

Segundo o ministro, existem ¿quatro ou cinco¿ sindicâncias em andamento na Abin desde 2003 que investigam servidores da agência suspeitos de vazamento de informações. Félix informou que existe apenas um caso antigo, do governo Fernando Henrique Cardoso, envolvendo um agente em interceptação telefônica ilegal. ¿Esse servidor já foi condenado em primeira instância e continua trabalhando na Abin por decisão da Justiça¿, explicou.

No depoimento, o ministro defendeu com veemência o diretor geral afastado da Abin, Paulo Lacerda. ¿Ele é um homem honrado, sério. Não admito que o Paulo Lacerda tenha faltado com a verdade¿, disse. O general fez questão de ressaltar que o afastamento de Lacerda é temporário. ¿Foi tomada uma decisão política em função da conjuntura. Não foi uma decisão definitiva¿, afirmou.

Uma das razões para o afastamento, segundo o ministro, foi para evitar ¿constrangimentos¿, uma vez que Paulo Lacerda dirigiu a Polícia Federal por mais de cinco anos e agora é alvo de inquérito aberto pela PF.

No depoimento, o ministro informou que já foram detectadas tentativas de monitorar ligações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ¿especialmente no exterior¿. Ele explicou que, geralmente, ¿dois ou três dias antes de o presidente se hospedar em algum lugar¿, uma equipe do gabinete de segurança faz uma varredura, monta o equipamento telefônico e isola o local para ter certeza de que a comunicação de Lula será segura.

CPI

A tentativa do Planalto de abafar a crise dos grampos com o afastamento relâmpago de Paulo Lacerda não esvaziou a crise no Congresso. O PSDB, o PPS e o DEM na Câmara defendeu a criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) mista - formada por senadores e deputados - para investigar a escuta no telefone do presidente do STF, que atingiu também o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

O líder do PSDB, José Aníbal (SP), contou que se reuniu com o vice-líder do PPS Arnaldo Jardim (SP) e com o vice-líder do DEM José Carlos Aleluia, que concordam com a CPI, e com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), discutindo essa possibilidade. Eles querem que Chinaglia ajude a articular a criação da comissão.

¿A comissão mista seria para esclarecer todo o episódio. Teria instrumentos para uma investigação correta¿, argumentou Aníbal. O tucano afirmou que não há pressa para recolher as assinaturas necessárias para a criação da CPI.