Título: Lula: afastamento indica transparência
Autor: Rosa, Vera; Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2008, Nacional, p. A4

Presidente diz que se jornalistas `souberem e contarem fica mais fácil¿

Leonardo Goy e Kelly Lima, VITÓRIA

Depois de afastar a cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a medida teve como objetivo ¿mostrar que há transparência na investigação¿ da suspeita de grampo envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes.

Em rápida conversa com os jornalistas, após participar de evento em Vitória (ES) para comemorar a primeira extração de óleo do pré-sal, o presidente disse aos repórteres que, se eles souberem quem fez a gravação e lhe contarem, ficará mais fácil.

¿A fonte (que revelou o caso dos grampos) falou com jornalistas, não foi comigo. Se algum de vocês souber e quiser facilitar a investigação, a gente pode resolver logo o problema. Se não, teremos que investigar com muita profundidade¿, afirmou Lula.

Na noite de segunda-feira, por meio de nota, a Presidência da República anunciou o afastamento do diretor da Abin, Paulo Lacerda, e de mais três diretores pelo menos até o fim das investigações sobre as denúncias de grampo contra o presidente do Supremo.

Além disso, o governo anunciou que a Polícia Federal abriria inquérito para apurar o caso. Na mesma nota, o Palácio do Planalto pedia para o Congresso aprovar, o mais rapidamente possível, o projeto de lei 3.272, de 2008, que estabelece limites para o uso das escutas telefônicas por autoridades policiais.

Também foi determinado ao Ministério da Justiça que providencie a elaboração de projeto destinado a aumentar as responsabilidades administrativa e penal de quem vier a cometer irregularidades no uso de grampos.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, também defendeu, na noite de segunda-feira, o aperfeiçoamento das regras que regem o uso de escutas telefônicas em todo o País. A ministra chegou a comparar o uso indiscriminado de grampos às perseguições políticas promovidas pelo regime nazista na Alemanha, em meados do século passado. Apesar disso, ela não acha que esteja em funcionamento um ¿Estado policialesco¿ - expressão utilizada pelo ministro Gilmar Mendes assim que o episódio foi divulgado.