Título: Evo denuncia golpe civil de opositores
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2008, Internacional, p. A28

Para boliviano, protestos e bloqueios de estradas são sinais de conspiração contra o Estado

AP, AFP E EFE

O presidente boliviano, Evo Morales, acusou ontem a oposição de conspirar contra o Estado ao promover bloqueios em estradas de todo o país. Evo afirmou que essas medidas são parte de um ¿golpe civil¿ contra seu governo e acusou a oposição de ter mentalidade ¿ditatorial, golpista e antidemocrática¿.

O presidente também ordenou o reforço na vigilância de instalações petrolíferas para evitar o corte das exportações de gás natural para Argentina e Brasil. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, descartou a possibilidade de a oposição boliviana impedir o abastecimento de gás para as regiões vizinhas. ¿Creio que isso não vai se materializar porque seria um tiro no pé¿, afirmou Amorim. ¿Estamos em constante contato com a Petrobrás e acredito que até o momento não ocorreu nada que indique que haja falta de segurança.¿

Os bloqueios de estrada foram convocados na quarta-feira por governadores opositores dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Chuquisaca em protesto contra a decisão do governo de convocar o referendo constitucional para 7 de dezembro. Além disso, as manifestações têm como objetivo exigir o reconhecimento das autonomias regionais, aprovadas em consultas populares em Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando. Outra reivindicação é a restituição de parte dos impostos sobre hidrocarbonetos (gás e petróleo) que era repassada aos governos locais e foi confiscada em janeiro para financiar uma pensão para idosos.

Evo afirmou que o anúncio das regiões opositoras de que não permitirão a realização do referendo em seus departamentos é mais um sinal de que elas estão conspirando abertamente contra o Estado. ¿Se não estão de acordo com a nova Constituição, que o expressem nas urnas¿, afirmou o presidente. Para ele, o número de opositores é cada vez menor, mas eles têm se tornado cada vez mais violentos. O líder boliviano culpou a ¿direita racista e fascista¿ por promover a violência.

ESCASSEZ

Os protestos nos departamentos opositores, onde se concentram as principais reservas de gás do país, puseram a Bolívia à beira de uma crise energética e alimentícia. Pelo menos dez estradas estavam bloqueadas em todo o país - entre elas, duas que ligam a Bolívia à Argentina e ao Paraguai.

A escassez de gás de cozinha e diesel já era evidente nos departamentos de Santa Cruz, Chuquisaca e Tarija, cujas rodovias estão bloqueadas desde segunda-feira. O bloqueio fez com que toda a importação de combustível da Argentina fosse suspensa. De acordo com emissoras de TV, as usinas de Santa Cruz são as mais prejudicadas pela suspensão, uma vez que não têm combustível para suas operações.

Segundo a emissora Erbol, a situação mais crítica está na região do Chaco, que tem bloqueios em suas estradas há 12 dias. Outros povoados no sudeste do país sofriam com a escassez de alimentos e com o aumento de preços dos produtos básicos.