Título: Alckmin quer 18 mil câmeras de segurança em São Paulo
Autor: Scarance, Guilherme; Bramatti, Daniel
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2008, Nacional, p. A8

Candidato do PSDB anuncia, também, intenção de rever o plano diretor da capital, evita críticas diretas a Kassab, embora destaque que tem mais chances de vencer Marta no segundo turno, e reitera que apoiará Serra em 2010

Guilherme Scarance e Daniel Bramatti

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin, prometeu ontem instalar 18 mil câmeras de vídeo na cidade para combater a ação de criminosos, caso seja eleito. Alckmin anunciou seu plano, inspirado em um sistema adotado em Bogotá, ao participar de sabatina promovida pelo Grupo Estado, no seu auditório. Atualmente, a prefeitura possui 3.585 câmeras, incluindo as da Guarda Civil, da CET, da SPTrans e as das escolas.

Hoje será a vez de Gilberto Kassab (DEM) participar do evento, que será transmitido ao vivo pela TV Estadão, no portal www.estadao.com.br, das 11 às 13 horas. Depois, vêm Paulo Maluf (PP), Soninha Francine (PPS) e Ivan Valente (PSOL)

Segundo Alckmin, é preciso rever o plano diretor da capital para promover o adensamento habitacional de regiões com mais infra-estrutura e empregos. ¿Pretendo que as áreas sejam cada vez mais mistas. É uma coisa muito atrasada isso de `aqui é só indústria, aqui é só comércio, aqui é só moradia¿.¿

O candidato negou divergências com o governador José Serra (PSDB), que ainda não participou de nenhum evento de campanha, e disse ter mais chances que Kassab de derrotar Marta Suplicy (PT) em um eventual segundo turno. ¿É só ver a rejeição.¿ A seguir, os principais trechos da sabatina:

REGIÃO METROPOLITANA

¿O mundo moderno é o mundo urbano. Hoje, pela primeira vez, dos 6,5 bilhões de pessoas do planeta, mais da metade está nas cidades. É um mundo metropolitano. (...) É preciso planejamento, enfoque e ação metropolitana em tudo que envolva fluxo. (...) Poluição, rodízio, inspeção veicular, mosquito da dengue: tudo hoje demanda um enfoque, ação metropolitana. Por isso, colocamos em nosso programa de governo que cabe a São Paulo, o maior núcleo da mancha urbana, 11 milhões de pessoas, liderar esse trabalho.¿

ELEIÇÃO DE 2006

¿É bom desmistificar isso, não houve nenhuma disputa. Eu disse claramente: se o Serra for candidato a presidente da República, ele terá meu apoio e eu nem saio do governo do Estado, vou terminar meu mandato. O Serra entendeu, ao final desse processo, que não deveria disputar e que deveria ser candidato a governador. Eu entendo até que foi a decisão melhor. Imagine se saísse candidato a presidente. É difícil você enfrentar o presidente da República no cargo. (...) Eu ainda levei a eleição para o segundo turno.¿

PSDB DIVIDIDO

¿Em um partido grande, é natural que tenha várias opções. O PSDB é um partido que tem quadros. Em 2006 tinha quadros, hoje tem quadros, em 2010 vai ter de novo bons quadros. Cabe ao partido discutir, em convenção, decidir e fazer a campanha. Democracia começa dentro de casa. Muitas vezes estamos mal acostumados pelo período ditatorial, que é o silêncio do cemitério, dos pântanos. Veja a disputa, nos Estados Unidos, entre Hillary Clinton e Barack Obama. O que disse o Obama? Que essa disputa o fez melhor candidato. É melhor disputar do que ter de mão beijada.¿

APOIO DE SERRA

¿Nós temos o apoio dele. (...) O Serra esteve na convenção. Aí disseram: `Ele não vai entrar na campanha.¿ Gravou para o primeiro programa eleitoral. Não há divisão. Estamos trabalhando, fazendo uma boa campanha para chegar ao segundo turno e, chegando ao segundo turno, ganhar as eleições.¿

KASSAB

¿Com todo respeito, o prefeito não é do meu partido. Eu sou do PSDB e o DEM tem todo o direito de ter candidato. Não tem nenhum problema. Agora, o PSDB sempre teve candidato, em São Paulo, em todas as eleições. É a maior cidade do País, maior que Portugal. O partido disputou aqui todas as eleições desde 1988. O Serra disputou três vezes a prefeitura: 88, 96 e 2004. Para isso existe segundo turno: quem foi vai para o segundo turno busca as alianças, os apoios.¿

SEGUNDO TURNO

¿Nós temos muito mais condição, no segundo turno, de vencer o PT. Muito mais (que Kassab). É só ver a rejeição. Eu não comento concorrentes e não desmereço ninguém. Mas acho que temos todas as possibilidades, no segundo turno, de vencer a candidata do PT.¿

PESQUISA E OSCILAÇÃO

¿Tem oscilações, dentro da margem. Se pegar o último Datafolha, não teve nenhuma queda. Se pegar a nossa pesquisa diária, tracking, não tem nenhuma queda. Teve um momento, há 15 dias, que teve uma oscilação. Pesquisa que vai valer é no dia 5 de outubro. (...) Essas pequenas oscilações são normais, a campanha está superbem, com enorme receptividade na rua, enorme confiança na população. (...) A pesquisa do Ibope está atrasada. De uma semana para cá não caiu mais. Bate exatamente com a nossa pesquisa, direitinho. Não teve nenhuma queda. Houve uma oscilação e estabilizou. E eu não tenho nenhuma dúvida de que vamos ter um crescimento daqui para a frente.¿

PESQUISA E QUEDA

¿No Brasil inteiro o PT teve crescimento. Acho que o resultado da eleição, no dia 5 de outubro, vai ser bem diferente das pesquisas atuais. Antes de começar a televisão, tivemos uma enorme massa de propaganda. A eleição ainda está fria, tem uma enorme quantidade de propagando do PT nas rua - peruas, pessoas, visita casa a casa. Pessoa desligada da eleição, quando entrevistada, é influenciada por aquela massa de propaganda e acaba fazendo uma opção. Isso não é o voto definitivo. O voto do PT é menor. Tanto que estava em 41%, já baixou para 39% e vai reduzir mais.¿

APOIO A KASSAB

¿Isso é mera especulação, isso é mais a vontade pessoal dele. Só que depende da vontade do povo. Eu não vou de salto alto. Eu vou com humildade.¿

FICAR NO CARGO

¿Sou o único dos três candidatos que não precisaria ser prefeito para ser governador. Não faz o menor sentido.¿

CORRIDA DE 2010

¿Vou ajudar o meu partido, PSDB, em 2010. Entendo que nós temos boas chances na eleição presidencial, porque o presidente não será candidato. E, no presidencialismo e no sistema de reeleição, tem uma enorme vantagem. Ele não podendo, a disputa é mais equilibrada. E nós vamos chegar lá também em 2010.¿

¿Eu sempre tenho dito que a minha vitória em São Paulo ajuda o Serra, porque fortalece o PSDB de São Paulo. O Serra eu apoiei em todas as outras eleições - para presidente, para governador, para prefeito de São Paulo. Aliás, o meu apoio foi decisivo em 2004 porque não era uma eleição fácil. E vou apoiá-lo em 2010, vou apoiar o candidato do meu partido. Espero que seja o Serra.¿

LULA COM MARTA

¿O presidente tem todo o direito de apoiar a candidata do seu partido. Não é nenhuma novidade, nenhum fato novo. (...) O impacto do apoio do presidente Lula já ocorreu, são ambos do mesmo partido. Agora o presidente Lula não é presidente do PT, ele é presidente do Brasil. Encerrada a eleição, no dia 26 de outubro, acabou isso tudo. Não tem terceiro turno, quarto turno.¿

VOTO DISTRITAL

¿Sempre defendi voto distrital. Para mim, os 55 vereadores de São Paulo seriam eleitos por 55 distritos. Hoje há uma sub-representação das regiões mais pobres. Se contesta o voto distrital dizendo que é conservador. É o contrário. Ele é progressista porque hoje as regiões que precisam, mais populosas e mais carentes, não têm representação, estão sub-representadas.¿

PÉ NO CHÃO

¿Essa coisa de escolher secretário antes da hora dá um azar danado, não vou sentar na cadeira.¿

LOTEAMENTO

¿Sou um grande defensor da descentralização. Vi muito isso lá em Berlim, em Hamburgo. Subprefeitura é importantíssimo. Precisa colocar o governo mais perto da população. São Paulo é uma cidade plural, uma cidade-Estado. Você tem várias cidades dentro de São Paulo, cidades enormes. O subprefeito vai ter vínculo com a região, vai ser escolhido pela sua competência, pela sua qualificação. Não vai haver loteamento, vereador não vai comandar subprefeitura.¿

NOVA SECRETARIA

¿A prefeitura não tem de disputar o poder de polícia, que é do Estado, mas tem de complementar. Agir nas causas da violência. Vamos criar a Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania.¿

AÇÕES CONTRA A VIOLÊNCIA

¿Como a prefeitura pode ajudar? Primeiro: iluminação pública. A cidade está escura. Metade dos parques da cidade ainda tem aquela luz branca, de mercúrio. Tudo deveria ser com vapor de sódio, que ilumina 40% a mais e reduz a conta de energia em 25%.¿

CÂMERAS DE VÍDEO

¿Vou instalar 18 mil câmeras de vídeo. Eu vi em Bogotá, estive com o chefe da Polícia Nacional. Ouvi das pessoas: há quatro ou cinco anos não se podia andar na rua à noite. Nós andamos tranqüilos a pé, por toda a cidade. É um sistema de software e as câmeras. Você sabe, por georreferenciamento, o local, o dia e o tipo de crime. E você monitora tudo por câmeras de vídeo.¿

GUARDA CIVIL METROPOLITANA

¿Pretendo aumentar para 10 mil homens e mulheres a Guarda Civil Metropolitana. Bem treinada, ela pode ajudar muito nas escolas, nos terminais de ônibus.¿

FURTOS DE CARROS

¿Vamos fechar desmanches ilegais. Quem roubar um carro vai ter de ir para outra cidade, passar pela Polícia Rodoviária. Dificulta. Bandido não quer confusão com a polícia, quer dinheiro. Não quer morrer nem ser preso.¿

REVISÃO DO PLANO DIRETOR

¿Vamos rever o Plano Diretor regional - os 31 planos diretores regionais. Rever o plano diretor estratégico. A Lei Orgânica de Uso do Solo. A Câmara Municipal terá importância muito relevante. O plano diretor estratégico é de 2002 e a Lei de Uso do Solo também, estabelecendo o macro e o micro. Ela diz que, cinco anos depois, deveria ter revisão. Em 2007, deveria ter tido revisão do plano diretor e da Lei de Uso do Solo. Isso não ocorreu, acho até que foi bom. É melhor fazer num novo governo e com nova legislatura.¿

NOVO PLANO DIRETOR

¿Adensamento de regiões com mais infra-estrutura e emprego. Nas áreas de corredores de alta capacidade, fazer uma integração muito importante. Pretendo que as áreas sejam cada vez mais mistas. É uma coisa muito atrasada isso de `aqui é só indústria, aqui é só comércio, aqui é só moradia¿. Uma cidade precisa ter tudo. E vamos criar pólos auto-sustentáveis, as novas centralidades. Na zona leste, é preciso reduzir impostos para levar empresas para lá. São Paulo tem tudo para ser uma capital digital.¿

PEDÁGIO E LAJE NA MARGINAL

¿(Não farei) nem uma coisa nem outra. Nem cobrir o rio - já houve um erro no passado. O Tietê não é mais um rio, é um canal. O rio está lá no Parque Ecológico do Tietê, é sinuoso. As várzeas pertencem ao rio. Lá atrás foi feito um canal e - o pior - as várzeas foram ocupadas. Só falta agora fechar o rio. De jeito nenhum. (...) Nem fazer pedágio. Tem tanta coisa para fazer na questão do transporte e no trânsito antes de discutir essa questão do pedágio urbano que não pretendo implantar nos próximos quatro anos.¿

CORREDOR DE ÔNIBUS

¿O caminho é transporte coletivo de alta capacidade. Primeiro, ônibus, que transporta quase 9 milhões de passageiros por dia. Vamos fazer o ônibus andar. Só que os corredores nossos não têm ultrapassagem e o que se fez foi a segregação do ônibus, que está lá encurralado, 9 quilômetros por hora, 12 quilômetros por hora. (...) Em Bogotá o sistema ganhou uma tal eficiência que ganha qualidade e reduz preço. O preço é 75 centavos de dólar, 35 quilômetros por hora de velocidade. Aqui é um dólar e meio quase e a prefeitura tem de pôr quase R$ 600 milhões de subsídio. Sistema caro, ineficiente e não anda.¿

CENTRO

¿Em São Paulo não há compatibilidade entre moradia e trabalho, estudo, lazer. (...) Eu vou atuar em duas direções: de um lado, adensamento da região mais central de São Paulo. Aliás, se for eleito, vou mudar para o centro de São Paulo. Precisamos trazer de volta as pessoas para o centro, mais perto do emprego e da infra-estrutura. E criar, na zona leste ou sul, mais distantes, pólos auto-sustentáveis, gerar emprego, levar empresas para lá.¿