Título: Ensino médio tem mais alunos na série adequada
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2008, Vida, p. A34

Apesar da queda de matrículas entre 2005 e 2007, cresceu o nº de jovens de 15 a 17 anos na sala de aula

Lisandra Paraguassú

Apesar da queda de 7,3% no total de matrículas no ensino médio registrada entre 2005 e 2007 no País, cresceu em 28,5% o número de adolescentes de 15 a 17 anos cursando essa etapa. A boa notícia é a correção de fluxo, já que os alunos estão cursando a série na idade considerada adequada. Por outro lado, houve uma evasão na faixa etária dos 20 aos 24 anos - que tem optado pelo mercado de trabalho.

Com isso, o Brasil viu aumentar em 1,3 milhão o número de estudantes entre 15 e 17 anos matriculados no ensino médio. Porém, a evasão na faixa dos 20 aos 24 anos ficou em cerca de 1 milhão no mesmo período, o que representou uma queda de 71% entre 2005 e 2007. Esses dados, obtidos pelo Estado, são parte do Censo da Educação Básica e mostram que, no total, o ensino médio perdeu no País 661 mil alunos nestes dois anos, dos quais a maior parte com idade entre 18 e 19 anos. A maioria, segundo o Ministério da Educação (MEC), porque optou pelo trabalho em detrimento da sala de aula, mesmo sem completar os estudos.

¿Existe uma correção de fluxo. Temos muito mais alunos na idade correta no ensino médio. Mas, nessa faixa etária mais alta, o que acontece mesmo é evasão. Ela se concentra nesta idade, nas grandes metrópoles e nos cursos noturnos¿, revela Carlos Artexes Simões, coordenador de ensino médio da Secretaria de Educação Básica do MEC. Parte dessa evasão, diz ele, pode ser creditada ao aumento da oferta de empregos, formais e informais, que atraiu mais os jovens do que a escola.

¿Não temos um estudo aprofundado sobre esse impacto, mas é certamente um dado relevante, reforçado pela faixa etária da evasão e o fato de acontecer principalmente nas grandes metrópoles. O aumento do emprego pode deslocar o jovem da idéia de continuar estudando¿, afirma Artexes.

Quase a metade dos desempregados do Brasil (46%) tem entre 16 e 24 anos, de acordo com o Ministério do Trabalho. Os dados mais recentes, no entanto, mostram que em julho o número de contratados jovens foi um pouco acima de outras faixas etárias.

ATRATIVO

O próprio ministério tem um diagnóstico do ensino médio apontando para a falta de atrativos para o jovem que precisa trabalhar. Isso porque os cursos são pouco flexíveis, ensinam mal e nem sempre conseguem garantir conhecimento direcionado ao mercado de trabalho. ¿Além da falta de qualidade, o ensino médio ainda tem uma proposta infantilizada, que não dá conta do jovem adulto¿, diz o coordenador.

Também admite-se no MEC que o ensino médio é o nó que o País ainda não conseguiu desatar. Um relatório, produzido por representantes do ministério e da Secretaria de Ações de Longo Prazo e entregue ao ministro da Educação, Fernando Haddad, apontou, entre outras coisas, a falta de condições físicas adequadas e espaços próprios para escolas de ensino médio.

¿A carga horária é reduzida, as condições físicas e de professores são deficitárias¿, analisa o texto. Combinadas, a falta de estrutura, a necessidade de trabalhar e uma escola que não diz a que veio empurram esse jovem para o mercado de trabalho, mesmo que sem preparo. ¿É uma dívida que temos que resgatar¿, diz Artexes.

ALTERNATIVA

Por isso, os jovens de 20 a 24 anos são, justamente, o foco principal das alterações que deverão ser propostas pelo grupo de trabalho (GT) que analisa o ensino médio atual. Uma das idéias que estão sendo discutidas é a criação de uma nova estrutura, mais flexível e mais rápida. ¿Seriam escolas para atender especificamente esse público, mas algo além do EJA (Educação de Jovens e Adultos)¿, explica Artexes.

¿É necessária uma proposta pedagógica diferente, uma velocidade diferente do que é apresentada para um menino de 15 anos¿, complementa ele.

Uma das possibilidades seria dispensar as férias de verão e inverno para que os estudantes acelerassem os estudos. Outra alteração - já permitida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, mas raramente posta em prática - permitiria o estudo em módulos de disciplinas. Assim, em caso de repetência, o estudante teria que refazer apenas o módulo em que não obteve sucesso.

Outro ponto em discussão é alterar o currículo. ¿Hoje não há uma ponte entre o aprendido na escola e o mundo real. Os alunos ficam apenas na teoria. É a política do quadro negro e giz", diz Artexes. ¿Precisamos dar um significado para o ensino médio.¿