Título: OCDE indica recessão na Europa
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/09/2008, Economia, p. B6
Sob impacto da alta nas matérias-primas e nos alimentos, países da zona do euro tiveram recuo de 0,8% no PIB
Andrei Netto, PARIS
O impacto da crise internacional sobre o crescimento dos países continua considerável, segundo levantamento divulgado ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris. E o foco das atenções mudou: antes eram os Estados Unidos, agora é a zona do euro. Exceção feita à economia americana, que cresceu 3,3%, os países enfrentaram recessão no segundo trimestre. Na zona do euro, houve recuo de 0,8%, enquanto no Japão a queda foi acentuada: 2,4%.
Os dados forçaram a organização a rever suas estimativas de crescimento. Para os Estados Unidos, a nova previsão de avanço do Produto Interno Bruto (PIB) é de 1,8% em 2008, frente a 1,2% inicialmente estimado. Na zona do euro, a perspectiva é inversa: a evolução do PIB deve ficar em 1,3%, frente ao 1,7% previsto. O diretor-adjunto do Departamento Econômico da OCDE, Jean-Luc Schneider, indicou que os países da zona do euro e o Reino Unido deverão enfrentar estagnação econômica até o fim do ano. Entre as causas está o fraco desempenho das exportações, impactadas pela moeda forte.
Apesar dos números, o economista-chefe interino da OCDE, Jorgen Elmeskov, não foi totalmente pessimista. Ele disse que, se os preços das matérias-primas se mantiverem nos níveis recentes, pode-se esperar a moderação dos índices de inflação global. ¿O preço do petróleo está em baixa em relação aos picos de meados do ano, em razão da diminuição da demanda e da produção recorde nos países exportadores.¿ O preço dos alimentos, disse, dá sinais de ter atingido a estabilidade, ainda que em níveis elevados.
O relatório da OCDE aponta que a instabilidade nos mercados de capitais e nos mercados imobiliários e a pressão sobre os preços das matérias-primas não permitem prever a profundidade da crise financeira internacional e não descarta novas perdas nas operações de financiamento imobiliário e na construção. Porém, Elmeskov faz uma ressalva positiva sobre o crescimento global, baseada na evolução de países em desenvolvimento. ¿No segundo trimestre, haverá crescimento bem mais forte que o esperado em países não-membros, como China e Índia, e, por isso, teremos de rever a alta do crescimento anual prevista inicialmente.¿
INFLAÇÃO
A inflação nos países desenvolvidos segue em alta, segundo a OCDE. A variação de preços no grupo de 30 países mais ricos em julho, ante o mesmo mês de 2007, foi de 4,8%. Em junho, a havia sido de 4,4%, na mesma base de comparação. Nos EUA, o aumento foi de 5,6%, ante 5% em junho.
Os indicadores apontam que a pressão inflacionária continua a ser resultado, basicamente, dos preços da energia e dos alimentos. O principal fator foi a variação da energia, que subiu 22,5% entre os meses de julho de 2007 e 2008. Na avaliação anterior, em junho, a alta havia sido de 19,3%. Os preços dos alimentos seguem a tendência de alta: 7,2% em julho, ante 6,5% em junho. Sem esses dois grupos a inflação teria se mantido quase estável: em 2,3% em julho, frente a 2,2% em junho.
Na zona do euro, a inflação bateu o recorde desde a adoção da moeda, em janeiro de 2002, mas ficou próxima do índice anterior. A variação foi de 4,1%, frente a 4% em junho. Se extraído do cálculo o preço da energia e da alimentação, a alta seria 1,7% em julho e de 1,8% em junho. Na região, a Itália teve o índice mais preocupante: 4,1%. Na França e na Alemanha as altas foram de 3,6% e 3,3%, respectivamente.
O Reino Unido, fora da zona do euro, enfrentou inflação de 4,1%. Houve aceleração também no Japão, onde a variação dos preços foi de 2,3% em julho ante 2% no mês anterior.
NÚMEROS
4,8% foi a alta da inflação em julho no grupo de 30 países mais ricos ante o mesmo mês de 2007
5,6% foi o aumento dos preços nos Estados Unidos
7,2% foi a alta nos preços dos alimentos nos países desse grupo
2,4% foi a queda no PIB do Japão no segundo trimestre
3,3% foi o crescimento do PIB americano no período