Título: Ex-diretor da Abin diz que 52 agentes ajudaram PF
Autor: Madueno, Denise ; Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2008, Nacional, p. A7

Fortunato nega, porém, que equipe tenha participado dos grampos

Denise Madueno, Vannildo Mendes e Fausto Macedo

Pelo menos 52 agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)foram cedidos para dar apoio à Operação Satiagraha, a investigação que, em julho, sob comando do delegado Protógenes Queiroz, levou à prisão o banqueiro Daniel Dantas e mais 13 pessoas, todas liberadas depois pelo Judiciário. A revelação foi feita pelo diretor afastado do Departamento de Contra-Inteligência da Abin, Paulo Maurício Fortunato Pinto, em depoimento à CPI dos Grampos, na Câmara, em Brasília. Ele disse que houve descontrole no comando de Protógenes e negou que a agência tenha participado de grampos telefônicos. ¿Estamos pagando um pato que não é nosso¿, afirmou.

Fortunato disse que a Abin apenas deu apoio à PF e não tinha a ¿idéia do todo¿ nem sabia qual era ¿o alvo principal da operação¿. Segundo ele, quatro agentes foram destacados para as operações no edifício sede da PF em Brasília, trabalhando na mesma sala em que ficava Francisco Ambrósio do Nascimento - ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) apontado em reportagem da revista IstoÉ como o responsável pelo grampo telefônico que registrou conversa do presidente do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Os agentes, disse Fortunato, ficavam fazendo pesquisas em bancos de dados abertos e recebendo ordens diretas de Protógenes.

O outro grupo, contou, trabalhava em ações pontuais nas ruas confirmando endereços residenciais e comerciais. Segundo ele, esse grupo não trabalhava de forma integral, mas em escalas, e desenvolvia outras atividades. Quando havia solicitação, agentes se deslocavam em dupla para cumprir a missão.

O Estado apurou que os arapongas da Abin não deram apenas apoio, como disse o ex-chefe da Contra-Inteligência: participaram de grampos, monitoraram conversas privadas em residências, restaurantes e locais públicos e seguiram suspeitos. Analisaram até mensagens de e-mail das pessoas investigadas. Para levantar até que ponto isso pode ter contaminado as provas obtidas, os delegados federais Rômulo Berredo e William Morad estão desde terça-feira em São Paulo.

Berredo e Morad foram designados para investigar a responsabilidade por grampos ilegais contra autoridades dos três Poderes. Chamou a atenção dos delegados o elevado número de grampos telefônicos e de e-mails, na casa das centenas, em comparação com o pequeno número de prisões (21) pedidas pela PF e concedidas pelo Judiciário (14).

Os delegados acompanham em São Paulo a auditoria que está sendo feita no Guardião - o sofisticado equipamento de escuta da PF. Todos os grampos feitos na operação estão arquivados no ramal paulista do Guardião. Berredo e Morad também fazem cruzamentos das informações colhidas até agora com a nova equipe da PF, comandada pelo delegado Ricardo Saad, que assumiu a Operação Satiagraha no fim de julho, quando Protógenes saiu de licença para fazer curso de reciclagem em Brasília.

A PF já sabe que, se houve grampo ilegal feito com o Guardião, os responsáveis serão rapidamente identificados porque o equipamento é auditável e todos os acessos só são possíveis com senha e ficam registrados. Sabe também que, se as escutas partiram de equipamentos diferentes do Guardião, não foram as maletas da PF, que também são auditáveis.

Na sessão secreta realizada anteontem na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, dirigentes da PF revelaram que o órgão adquiriu recentemente dez maletas com capacidade de fazer escutas sem necessidade de mediação das companhias telefônicas. Dessas, oito ainda estão intactas e só duas foram usadas, mas nenhuma foi requisitada por Protógenes nem serviu à Satiagraha.

CONTRADIÇÕES

Em declarações contraditórias à CPI, Fortunato primeiro disse que não conversara com Ambrósio nos últimos dez anos. Depois acabou revelando que se encontrou com o ex-agente do SNI na sexta-feira, dia anterior à publicação da reportagem de IstoÉ. ¿Foi uma ação minha para tentar esclarecer e saber se ele tinha coordenado alguma coisa. Ele disse que tinha sido contratado por Protógenes¿, afirmou.

Depois, em sessão secreta, o diretor afirmou, em tom de desabafo: ¿Os servidores que dedicaram sua vida estão sendo achincalhados por um problema que não é da Abin. Eu estava evitando falar isso, mas esse problema não é da Abin, é da Polícia Federal. Tudo foi feito dentro do prédio da PF. Não houve reunião de agentes, o delegado não montou sua base na Abin. Ele trabalhava no quinto andar do prédio da PF, na diretoria de inteligência policial. Naquele ambiente é que foi montada a central desse trabalho.¿