Título: 'Estamos no meio de um pântano. Se acreditar em grampo, vou ficar louco'
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2008, Nacional, p. A14

Cotado para assumir a presidência do PT em 2009, assessor de Lula diz aguardar resultados da investigação sobre escutas

Vera Rosa

Alvo de escutas telefônicas clandestinas, o ex-seminarista Gilberto Carvalho - chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - é hoje o nome mais cotado para substituir o deputado Ricardo Berzoini (SP) no comando do PT e conduzir a campanha à sucessão no Planalto, em 2010. Embora a eleição da nova cúpula petista só vá ocorrer em outubro do ano que vem, o movimento antecipado do partido tem como pano de fundo a preparação do candidato a herdeiro de Lula, que atualmente testa a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Há cerca de 20 dias, Carvalho foi convidado para um jantar com parlamentares do PT na casa do deputado federal Vander Loubet (MS), em Brasília. Os petistas apelaram para que ele aceitasse a missão de concorrer à presidência do partido. O chefe de gabinete, que já foi secretário-geral do PT nos anos 90, listou dificuldades para assumir a tarefa, disse preferir ficar no governo até 2010, mas ficou de pensar no assunto.

¿Eu não descarto porque não sou dono da minha vida¿, afirmou Carvalho ao Estado. ¿Mas não estou disposto a entrar numa disputa. Não quero me colocar como candidato à queimação. Já estou muito chamuscado por outras coisas.¿

Carvalho foi grampeado por arapongas, mas diz só ter informações sobre a interceptação que veio à tona, no rastro da Operação Satiagraha, de um diálogo seu com o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do banqueiro Daniel Dantas. ¿Eu prefiro não acreditar em teoria conspiratória¿, alega, sem associar o monitoramento de suas ligações à guerra política.

¿Estamos no meio de um pântano. Enquanto eu não tiver provas de que houve outros grampos, não posso acreditar que fui espionado. Se acreditar, vou ficar louco¿, argumenta Carvalho. Para o chefe de gabinete, se forem confirmadas as suspeitas de escutas clandestinas na ante-sala do presidente, o caso será ¿gravíssimo¿.

¿Não pela minha importância, porque não sou tão importante assim, mas porque estou ao lado do presidente Lula¿, diz ele, diplomático.

O sr. é candidato à presidência do PT no ano que vem?

O meu projeto é ficar no governo até 2010 e depois tirar 30 dias de férias, até pelo meu cansaço. Mas me disponho a continuar conversando sobre o método mais adequado para que possamos construir a melhor direção do PT, em 2009.

Um grupo de deputados articula movimento de apoio à sua candidatura, reunindo as principais correntes do PT, para que o sr. possa conduzir a possível campanha da ministra Dilma à sucessão do presidente Lula. Houve até um jantar na casa do deputado Vander Loubet em que o sr. recebeu forte apelo para assumir a tarefa. O sr. descarta a candidatura?

Eu não descarto porque não sou dono da minha vida. É verdade que houve esse jantar, mas não assumi nenhum compromisso. Não falei nem sim nem não. Posso lhe assegurar, no entanto, que não há qualquer intenção do presidente Lula por trás disso. Não há um candidato do presidente para tomar conta do PT. Ele nunca me pediu isso.

Mas até integrantes da ala comandada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, admitem dar aval a seu nome para presidente do PT, embora o grupo de Marta Suplicy queira mais espaço no partido, de olho na eleição de 2010...

Não estou disposto a entrar numa disputa. Quero continuar onde estou e completar a obra do governo Lula. Não quero me colocar como candidato à queimação. Já estou muito chamuscado por outras coisas. Sou tão visado...

A escuta clandestina de suas conversas telefônicas tem relação com a disputa presidencial de 2010?

Eu prefiro não acreditar em teoria conspiratória. O único grampo de que tenho ciência é aquele relativo à minha conversa com Luiz Eduardo Greenhalgh, porque ele estava grampeado. Enquanto eu não tiver provas de que houve outros grampos, não posso acreditar que fui espionado. Se acreditar, vou ficar louco. Eu preciso trabalhar e estou quieto no meu canto.

Mas o sr. não desconfia nem mesmo de agentes da Polícia Federal ou da Abin?

Não posso ser leviano. Eu aguardo os resultados das investigações, o desfecho da CPI e as provas. Estamos no meio de um pântano. Há muitas especulações e o momento exige prudência e serenidade.

O comentário é de que há várias ligações suas, da ante-sala do presidente Lula, interceptadas por arapongas, no Palácio do Planalto. Uma delas diria respeito ao Plano Nacional de Defesa. Com quem o sr. conversou sobre isso?

Eu nunca discuti o Plano de Defesa com ninguém. Aliás, nem quis vê-lo. Se for realmente verdade que eu fui grampeado, trata-se de um fato gravíssimo. Não pela minha importância, porque eu não sou tão importante assim, mas porque estou ao lado do presidente Lula.

Como o presidente reagiu à pesquisa Datafolha indicando que 64% da população considera o governo ótimo ou bom?

Ficou muito contente, claro. Nós até fizemos uma piada com ele e dissemos: `Agora só falta você ganhar apoio do Gabinete.¿ Ele riu.