Título: Noruega doa pelo menos US$ 100 mi para Amazônia
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2008, Vida, p. A22

Primeiro-ministro anuncia 3.ª-feira, em visita ao Brasil, valor exato que será injetado em fundo do BNDES

Sérgio Gobetti

O primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, deve anunciar nesta terça-feira, primeiro dia de visita ao Brasil, uma ajuda de pelo menos US$ 100 milhões (R$ 179 milhões) ao ano para o Fundo Internacional da Amazônia. O país dispõe de US$ 3 bilhões (R$ 5,1 bilhões) para aplicar na proteção de florestas tropicais durante cinco anos, mas o valor exato da contribuição ao Brasil é mantido em segredo pelo governo escandinavo, que pretende transformar o anúncio oficial, em Brasília, em jogada de marketing.

A Noruega, segundo ativistas verdes, está bem atrás de outros países europeus no cumprimento das metas do tratado de Kyoto, que prevê a redução da emissão de gases-estufa. O motivo é a expansão das atividades petrolíferas.

¿Como a Noruega tem muito petróleo e dinheiro, temos responsabilidade de preservar as florestas¿, diz Jan Thomas Odegard, da Fundação Norueguesa pela Conservação da Natureza.

Segundo ele, as entidades ambientalistas estão lutando por uma moratória nas novas concessões de blocos petrolíferos, a exemplo do feito aqui pelo governo brasileiro. O objetivo dos verdes é obstruir a expansão da indústria petrolífera no Mar do Norte enquanto não houver acordo climático no mundo. (Já o governo Lula decidiu suspender os leilões de campos em mar para ganhar tempo nas mudanças da Lei do Petróleo.)

O Brasil se credenciou a receber o dinheiro que sobra na Noruega por causa, principalmente, do sistema de monitoramento da mata por satélite. A recente criação do Fundo da Amazônia foi o detalhe que faltava para convencer Stoltenberg a fazer a primeira doação, entre seus US$ 3 bilhões autorizados pelo Parlamento, ao Brasil.

¿É, de longe, o melhor fundo do mundo. Estive na Indonésia, Congo e outros países com florestas tropicais e não há nada similar¿, disse o ministro do Meio Ambiente da Noruega, Erik Solheim. Em sintonia com os verdes, o ministro norueguês defende que parte do dinheiro seja canalizada para incentivar os chamados povos da floresta a preservá-la.

O ministro do Meio Ambiente do Brasil, Carlos Minc, está tão entusiasmado com a visita do norueguês que aposta em uma contribuição maior que os US$ 100 milhões especulados. ¿A minha expectativa é que seja mais do que isso. Outros países vão contribuir também, mas estão esperando que a Noruega dê o primeiro passo¿, disse ao Estado.

Segundo ele, o Fundo da Amazônia estará imune ao contingenciamento a que outras verbas do ministério estão sujeitas, pois terá gestão privada, paralela ao Orçamento da União. Ou seja, o Tesouro Nacional não terá qualquer ingerência sobre os valores recebidos para a conservação da floresta. ¿Será um fundo privado, abrigado no BNDES, com participação de nove governadores e seis ministérios, e no qual os doadores não têm assento, para preservar nossa soberania¿, disse Minc.