Título: Alta do investimento é destaque
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2008, Economia, p. B3

Crescimento do PIB no primeiro semestre contou com a forte contribuição da construção civil e agropecuária

Fernando Dantas

A taxa de investimento atingiu 18,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre, o maior nível neste período do ano desde 2000. Puxados pela importação de bens de capital e pela construção civil, os investimentos cresceram 15,5% nos últimos 12 meses, o maior ritmo da série iniciada em 1996, e 2,6 vezes mais rápido do que o PIB, que teve expansão de 6% no mesmo período.

A economista Giovanna Rocca Siniscalchi, do Unibanco, comenta que ¿no curto prazo, os investimentos pressionam ainda mais a demanda por mão-de-obra e insumos de capital¿. No médio prazo, porém, prossegue Giovanna, ¿o investimento vira estoque de capital e dá mais espaço para a economia crescer¿.

Estimando a média dessa defasagem em um ano, Giovanna diz que o produto potencial do País, diante da continuidade de um ritmo tão forte de investimentos, deve passar de algo próximo a 4,5%, no momento, para um nível perto de 5%, em 2009. O produto potencial é uma estimativa de quanto a economia pode crescer sem provocar pressões inflacionárias e desequilíbrios externos. É uma noção aceita pela maioria - mas não a totalidade - dos economistas.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, é muito cauteloso em relação aos ganhos no front da inflação relacionados à arrancada dos investimentos. Ele avalia que o crescimento da taxa de investimentos no último ano tenha aumentado o PIB potencial em 0,3 a 0,4 ponto porcentual, o que o poria próximo a 4,5%. ¿A economia está crescendo além de todos os limites razoáveis e, com esse ritmo de 6%, supera mesmo as estimativas mais otimistas de PIB potencial¿, alerta Schwartsman. Ele acrescenta que a demanda interna cresceu perto de 8% no segundo trimestre.

Os investimentos, segundo Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, têm sido impulsionados pela combinação de vendas de máquinas e equipamentos pela indústria nacional, importação do mesmo tipo de produto e o aquecimento da construção civil. O segundo e o terceiro fatores, ressalva a economista, pesaram mais no segundo trimestre de 2008 do que o primeiro.

O pequeno aumento da média da Selic entre os segundos trimestres de 2007 e de 2008, de 11,7% para 12,3%, parece não ter afetado os investimentos, que prosseguiram em seu crescimento vigoroso. Por outro lado, houve um impulso evidente do crédito não direcionado para empresas, que cresceu 41,3% em termos nominais no período (mais que o crescimento de 33,9% no primeiro trimestre).

Cláudia Dionísio, da coordenação de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, disse que o crescimento para 18,7% do PIB da taxa de investimento no segundo trimestre de 2008 deveu-se bem mais ao aumento dos volumes do que dos preços. A taxa de poupança, por sua vez, atingiu 19% no segundo trimestre, idêntica ao do mesmo período de 2007.

O consumo das famílias, o componente mais importante do PIB (61%), cresceu 6,7% em relação ao segundo trimestre de 2007, no 19º aumento trimestral consecutivo. Na comparação com o trimestre anterior, na série dessazonalizada, o consumo das famílias cresceu 1% de abril a junho, acelerando em relação à expansão de 0,4% do primeiro trimestre, na mesma base de comparação (na qual registra-se 20 trimestres consecutivos de expansão, desde o segundo semestre de 2003).

O consumo das famílias foi impulsionado pelo crescimento de 8,1%, no segundo trimestre, da massa salarial real (mais que a expansão de 6,9% no primeiro trimestre), e pelo crescimento nominal de 32,9% no saldo de operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas.

IMPOSTOS

Os impostos continuaram a crescer acima do produto no segundo trimestre de 2008, com aumento de 8,5% ante igual período de 2007, comparado com 5,7% do valor agregado a preços básicos (o produto menos os impostos). Em 12 meses, os impostos cresceram 8,3%, e o valor agregado, 5,6%.

O IBGE atribui, como fator mais significante desta alta, o imposto sobre importações, já que as compras externas estão tendo um fortíssimo crescimento.