Título: Chade e Noruega, duas faces da mesma moeda
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2008, Economia, p. B4
Chade e Noruega, duas faces da mesma moeda Pequeno país chegou a ter fundo soberano, mas sucumbiu às necessidades de curto prazo
Enquanto a Noruega tem figurado nos debates nacionais e internacionais como modelo padrão do que se deve fazer com o dinheiro do petróleo, o Chade é o contra-exemplo. ¿Vocês querem ser uma Noruega ou um Chade?¿, costumam questionar os técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), em suas missões aos países africanos produtores de petróleo.
Comparando com Nigéria e Líbia, que possuem reservas de 77,7 bilhões de barris de petróleo, o Chade é um pequeno produtor, com menos de 1 bilhão de barris ainda enterrados no seu território, mas sua experiência tem sido reveladora dos problemas de países miseráveis que, de repente, se vêem diante de uma mina de dinheiro.
Em 1999, o governo do Chade chegou a criar um fundo com as receitas do petróleo que, teoricamente, ficariam reservadas para as futuras gerações. Esse dinheiro passou a ser aplicado no exterior, como pretende fazer o Brasil. Mas a carência social da atual população do país é tão grande que as pressões sociais levaram o governo a se endividar para atendê-las.
Ou seja, o mesmo país que possuía dinheiro aplicado no exterior se endividava internamente para tentar tapar os buracos do orçamento. No início de 2006, o custo desse sistema se tornou tão alto que o fundo foi formalmente abolido.
Vendo o fracasso do Chade, alguns países novatos no rol de produtores de petróleo estão sendo mais cautelosos. Em São Tomé e Príncipe, por exemplo, o governo começou a definir regras fiscais para o uso do dinheiro, mas as pressões para o gasto são enormes.
As reservas de petróleo africanas somam cerca de 117,5 bilhões de barris, quase 10 vezes mais do que no Brasil, e a perspectiva é de que esse número cresça nos próximos anos com a exploração do pré-sal.
Como o Brasil, a África tem atraído o interesse das multinacionais, com uma diferença: lá os governos concedem condições contratuais extremamente vantajosas às empresas. A fragilidade institucional é tão grande que economistas como Joseph Stiglitz (ex-FMI) têm aconselhado instituições financeiras internacionais a auxiliar nas negociações.