Título: Jato chinês tenta pôr fim à dependência da Boeing e Airbus
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2008, Economia, p. B14
Modelo de até 95 lugares vai chegar ao mercado com 180 pedidos
O lançamento do jato regional ARJ21, que vai competir diretamente com o E-190 da Embraer, é o primeiro passo do governo chinês para criar uma indústria de aviação nacional que possa no futuro produzir aeronaves de grande porte e reduzir a dependência do país em relação às gigantes Boeing e Airbus.
Mas os atrasos no cronograma de fabricação do ARJ21 mostram que a tarefa não é simples. Na semana passada, a China adiou pela segunda vez o vôo inaugural de seu jato regional, previsto para o dia 21 de setembro. Antes disso, já havia cancelado o vôo programado para março, em razão da demora na entrega de equipamentos.
Apesar dos problemas, o ARJ21 chegará ao mercado com pelo menos 180 pedidos, quase todos de empresas chinesas. Por enquanto, o único comprador estrangeiro do produto é o braço de leasing da General Eletric, que assinou um acordo preliminar para aquisição de cinco aeronaves - a General Eletric participa da construção do ARJ21 e fornece o motor da aeronave.
Derek Sadubin, da consultoria Centre for Aviation, acredita que o jato chinês representa um novo desafio para a Embraer, mas avalia que os principais concorrentes da empresa brasileira continuarão a ser a canadense Bombardier e a ítalo-francesa ATR.
¿O ARJ21 está com um ritmo de vendas mais lento que o da Embraer, que tem um excelente volume de pedidos e escala de produção completa¿, observa Sadubin.
O ARJ21 tem capacidade para 70 a 95 passageiros, tamanho semelhante aos aviões da família E-Jets da Embraer, que possuem de 70 a 120 lugares.
O jato regional chinês é produzido pela estatal Avic I, uma das duas empresas criadas em 1999 com a divisão da China Aviation Industry Corporation (Corporação da Indústria de Aviação da China). A outra é a Avic II, sócia da Embraer na fábrica que produz o ERJ-145, de 50 lugares, em Harbin, no nordeste da China.
Quando ocorreu a divisão, a Avic I ficou com a tarefa de desenvolver aviões de médio e grande portes, enquanto a missão da Avic II é concorrer no mercado de pequenos aviões e helicópteros.
PARCEIROS
O ARJ21 está sendo desenvolvido com a participação de vários fornecedores estrangeiros. A principal inspiração do jato chinês é o DC-9, que era produzido pela extinta McDonnell Douglas, protagonista de uma tentativa frustrada de fabricar aviões na China no início dos anos 90. Na época, a empresa americana se associou à Avic para fabricar 150 aviões, dos quais apenas dois saíram do papel.
Além da Embraer, todas as outras grandes fabricantes de aviões ampliaram suas bases de produção na China nos últimos anos. A Boeing produz vários de seus componentes no país, enquanto a Airbus fechou no ano passado parceria com a Avic I para montar o A320 em uma fábrica na cidade de Tianjin, cujo governo também participa do projeto.
A grande rival da empresa brasileira, a canadense Bombardier, também firmou um acordo de cooperação com a Avic I, no qual investiu US$ 100 milhões no desenvolvimento do ARJ21, além de dar consultoria técnica ao projeto. Em troca, a estatal chinesa concordou em investir US$ 400 milhões na construção do novo jato regional da Bombardier, o C-Series, que vai competir na mesma faixa da família de E-Jets da Embraer.