Título: Em vez de construir, usar espaços ociosos
Autor: Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/09/2008, Nacional, p. A7

Especialistas sugerem que primeiro passo é aproveitar o que já existe

Adriana Carranca

Os candidatos à prefeitura tratam a cultura e os esportes como ¿mero lazer¿, na opinião de especialistas que, a pedido do Estado, analisaram as propostas, enviadas a eles sem a identificação dos candidatos. A maioria foca na construção de equipamentos, que pode ser resolvida com a utilização de espaços ociosos na cidade, como as escolas nos fins de semana. Nos dois casos, entretanto, o importante seria dinamizar as políticas de formação e criação.

¿Como sempre no Brasil, se quer criar coisas em outro lugar quando o que já existe não está consolidado nem é bem aproveitado¿, diz o curador do Museu de Arte de São Paulo (Masp), José Roberto Teixeira Coelho. Ele definiu as propostas como ¿tortas e perversas¿ e diz que sofrem dos cinco males recorrentes da política cultural: ¿idéias feitas, populismo, provincianismo, dirigismo e despreparo¿. Embora reconheça a falta de equipamentos nos bairros mais precários da cidade, ele acredita que ¿só se pode descentralizar uma cultura forte e arraigada¿. Mas, na sua opinião, ¿São Paulo não tem nem uma coisa nem outra¿.

¿O Brasil é um dos países onde a educação, citada somente em uma das propostas (Soninha, PPS), é `desculturalizada¿. E o candidato não explica como as duas coisas devem vir juntas¿, critica Teixeira Coelho. Para ele, a educação precisa de cultura, não para levar mais gente aos museus, mas para ¿formar pessoas capazes de ampliar seus horizontes e deixar de ser massa de manobra da cultura comercial da TV¿. Ele também aponta a falta de menção à internet e ao turismo, embora São Paulo seja a maior cidade da América do Sul e um pólo de atração internacional da cultura. ¿São Paulo é uma cidade mundial. Mas não tem política cultural para isso. O provincianismo continua a forte marca dos candidatos¿, conclui.

Os candidatos também não explicam como financiarão os novos centros de cultura que propõem com apenas 1,7% do orçamento da prefeitura. ¿Nenhuma menção é feita a fontes alternativas de financiamento¿, alerta Teixeira Coelho, para quem o conjunto das propostas forma ¿um deserto de idéias¿. ¿Sobrevive a política dos eventos, que nada costuram¿, diz.

Tião Soares, da Fundação Tide Setúbal, concorda e faz críticas à Virada Cultural, adotada na gestão de José Serra (PSDB) e mantida pelo sucessor Gilberto Kassab (DEM). ¿É importante como evento, mas gastam-se R$ 6 milhões em 24 horas; e no restante do ano? E as outras produções? E por que a cultura não vai para São Miguel ou Jardim Ângela?¿, questiona. ¿Só o que eles sugerem é a construção de mais templos da cultura.¿

Danilo Miranda, do Sesc-SP, diz que os candidatos têm ¿uma concepção equivocada da cultura e dos esportes, limitada aos espetáculos e grandes eventos¿. Para a ex-jogadora da seleção de vôlei Ana Moser, que preside o Instituto Esporte e Educação, ¿ainda é preciso amadurecer o entendimento do esporte como política pública.¿