Título: Wall Street já mira próximas vítimas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2008, Economia, p. B4

Forte queda das ações da AIG e do Washington Mutual na semana revela desconfiança com o futuro das instituições

AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A provável venda do banco de investimentos Lehman Brothers está longe de encerrar o drama por que passa o setor financeiro dos Estados Unidos, atolado nos prejuízos decorrentes da crise imobiliária.

¿Parece que não existe um fim para a desgraça que continua caindo sobre as companhias financeiras e simplesmente não sabemos quem será a próxima¿, observou Kevin Giddis, diretor-gerente do Morgan Keegan & Co. Em março, o então quinto maior banco de investimentos do país, o Bear Stearns, acabou vendido ao JP Morgan Chase, em uma operação intermediada pelo governo Bush.

Ontem, as ações da maior seguradora do mundo, a American International Group (AIG), encerraram o pregão na Bolsa de Nova York com queda de 31,8%, em conseqüência da preocupação dos investidores acerca de sua grande exposição a hipotecas. As ações do grupo, que estão entre as 30 que compõem o Índice Dow Jones, fecharam em US$ 12,14, valor US$ 5,37 menor que na véspera.

Os papéis já perderam mais de 70% do valor desde que, no início do ano, a seguradora advertiu seus acionistas que poderia ser afetada por grandes prejuízos em papéis da dívida de hipotecas de alto risco, o chamado subprime.

De lá para cá, a companhia já amortizou US$ 25 bilhões desses investimentos em hipotecas, o que provocou um prejuízo acumulado de US$ 18 bilhões nos últimos três meses.

¿Atribuímos isso (a desvalorização da ação) às dúvidas sobre a capacidade da AIG de separar seus ativos ligados a hipotecas complicadas e esperamos que os papéis sigam voláteis, dado que os investidores esperam notícias da companhia¿, Catherine Seifert, analista da agência de classificação de risco Standard & Poor¿s, em nota.

Joshua Shanker, analista do Citigroup, disse em outra nota que cortou o preço-alvo das ações de US$ 40 para US$ 25,50, em razão de temores no mercado sobre as condições financeiras da seguradora.

Agora, os acionistas esperam que o presidente-executivo da AIG, Robert Willumstad, que assumiu o cargo em 15 de junho, revele um plano de recuperação, que deverá ocorrer até 25 de setembro.

Ontem à noite, o Wall Street Journal informou que a AIG deve realizar um conference call com analistas e investidores na segunda-feira de manhã para anunciar um plano de recuperação, que incluiria a venda de alguns ativos.

Até ontem, a seguradora não havia convocado sua reunião de acionistas. Mas a desvalorização acentuada das ações, para o valor mais baixo em 13 anos, eleva a pressão sobre Willumstad para que apresente um plano para reforçar as suas finanças, que poderia incluir a venda de ativos.

WASHINGTON MUTUAL

Outra instituição financeira dos EUA cujas ações sofreram pesadas perdas na semana foi o banco Washington Mutual (WaMu), grande financiador de hipotecas e líder na área de poupança no país. Seus papéis perderam 36% entre segunda-feira e ontem, também em conseqüência de temores relacionados à capacidade de solvência.

Em meio à forte queda dos papéis, surgiram rumores de que a instituição poderia ser vendida para o JP Morgan Chase. Fontes não identificadas citadas pelo site americanbanker.com disseram que as negociações estariam avançadas e poderiam até mesmo ser concluídas durante este fim de semana.

Segundo a reportagem, o executivo-chefe do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, e o novo CEO do Washington Mutual, Alan Fishman, estão envolvidos nas discussões. O americanbanker.com também disse que a negociação não envolve o governo dos Estados Unidos.

No entanto, uma fonte próxima ao WaMu negou ao Wall Street Journal que discussões sérias estejam ocorrendo com o JP Morgan. Segundo o jornal, Alan Fishman contratou um aliado de seus dias num pequeno banco no Brooklin para tentar tirar a instituição de sua crise atual.

Frank Baier, cujo último emprego foi como diretor financeiro e administrativo da Associação de Mercados Financeiros e do Setor Mobiliário em Nova York, vai atuar como assessor especial de Fishman. Segundo o WSJ, sua chegada deve levantar dúvidas sobre o papel de outros altos executivos do WaMu.